Aconcágua: O trekking até o primeiro acampamento em Confluência

Relato e dicas do primeiro dia de trekking rumo ao campo base 


Havia chegado o dia de colocar o pé na estrada rumo ao campo base da montanha mais alta fora da Ásia: o Aconcágua. Acordei por volta das 8h da manhã e, depois de tomar meu último banho e comer meu último desayuno decente, segui andando por volta das 10h a partir de Puente del Inca em direção ao Parque Provincial Aconcagua. Foram cerca de 3 km pelo acostamento da Ruta 7 (em direção a fronteira do Chile) até a entrada do Parque. A caminhada bem tranquila durou 1 hora.

Uma carcaça de ônibus abandonada no caminho para o Parque


As placas sinalizam a entrada do Parque do Aconcágua


CENTRO DE VISITANTES

Antes de começar a trilha rumo ao Campo Base do Aconcágua é necessário fazer check in no Centro de Visitantes do Parque apresentando o "Permiso", ou seja, o documento de permissão do trekking de 7 dias que foi pago e emitido em Mendoza, como expliquei no post Aconcágua: Dicas e Custos para fazer o Trekking até seu Campo Base

Centro de Visitantes do Parque Provincial Aconcagua


A funcionária do Parque destacou seu canhoto do "Permiso" e me entregou uma sacola branca numerada, destinada a colocar todo o lixo gerado. Ela explicou que eu deveria entregar aquele saco cheio de lixo quando finalizasse o trekking: "Esse é o único contrato que você tem comigo". Caso o saco não retornasse, haveria uma multa.

O pequeno Centro de Visitantes possui painéis informativos e até um manequim de andinista


A geologia da formação do Aconcágua e a história do Parque estão nas paredes


A fauna da região possui felinos e lobos


Essa gaiola sem passarinho está lá para reflexão


A funcionária me passou a dica de seguir pelo lado direito na trilha da Laguna Horcones, na ida, e quando eu retornasse, pegaria a outra trilha, e assim aproveitaria para conhecer todo o pequeno circuito da laguna (foto abaixo). Também me informou a frequência do rádio do guardaparque: VHF 142800 (como eu nao tinha rádio, foi uma informação inútil). Eram 12h00 e antes de iniciar a caminhada, ainda passei no WC e completei minha garrafa de água na torneira. 

Mapa com o circuito "nutella" da Laguna Horcones


Estátua do General San Martin marca o início da caminhada no Parque


O primeiro quilômetro é asfaltado até o estacionamento


A partir deste ponto não passa carro, somente mulas e trilheiros (no meu caso, similares 😆)


Helicóptero do Parque que presta apoio ao campo base da Plaza de Mulas e demais emergências


CIRCUITO LAGUNA HORCONES

O início da trilha é dentro do circuito "nutella" da Laguna Horcones, uma caminhada por caminhos balizados de cerca de 2 km de extensão. Essa trilha é feita para famílias que visitam o parque apenas para fotografar o Aconcágua de longe, dentre outras paisagens. 

Entrada da trilha pelo Circuito Laguna Horcones


As placas indicam as atrações do circuito


Parada para foto na entrada da trilha


Circuito com 2 km de trilhas limpas e balizadas


Laguna Espejo, só a marca dela pois secou!


A trilha continua, saindo do circuito da laguna e subindo em uma leve inclinação. A vista do imenso Aconcágua está sempre à frente, dando uma motivada. Em certo ponto a trilha passa por uma ponte suspensa em que há uma placa informando que, a partir daquele ponto, somente pode seguir quem possui a permissão do parque para chegar em Confluência. 

A vista imponente do Aconcágua motiva qualquer andarilho


A partir dessa ponte só pode passar quem tem o "permiso"


No caminho é comum cruzar por comboios de mulas levando e trazendo material


Um andinista retornando com 2 mochilas


No trecho final a subida inclina mais, porém não chega a ser íngreme


Às 16h00 cheguei no acampamento de Confluência (3.400 m de altitude), completando 4 horas de caminhada a partir do Centro de Visitantes. A distância percorrida desde Puente del Inca é de aproximadamente 10 km. O primeiro procedimento é fazer o check in com o guardaparque. Naquele momento, o clima começou a fechar, e fui montar a barraca com muito vento e frio. Usei as pedras que haviam por ali para cercar a barraca e fixá-la melhor no chão. Minutos depois começou a cair um pouco de neve.

Chegada em Confluência a 3.400 metros de altitude


As empresas especializadas em trekking e escalada possuem barracas bem estruturadas


Montei a barraca em meio ao vento e ao frio


ACAMPAMENTO DE CONFLUÊNCIA

Além da noite do primeiro dia, o qual cheguei em Confluência, passei ainda mais dois dias/noites naquele lugar. No segundo dia fiz o trekking de aclimatação para a Plaza Francia e no terceiro dia foi a oportunidade "estratégica" de descanso para a longa caminhada até a Plaza de Mulas, o campo base do Aconcágua, que seria feita no quarto dia de trekking. 

Pedra com fósseis de coral. Nos Andes, um dia, já existiu um mar!


Para quem faz o trekking sem contratar empresas, como foi o meu caso, há disponível no acampamento de Confluência apenas o lugar para montar barraca, um sanitário público e um ponto para coletar água. No local da água também existe uma mesa para fazer refeições. A água é proveniente do degelo das montanhas e é rica em magnésio. Existem relatos de pessoas que costumam sentir intolerância e acabam tendo diarreia, por isso se recomenda que levem remédios para a flora intestinal e purificadores de água. Eu não senti nada, exceto o gosto estranho da água. Usei um filtro portátil tipo Sawyer durante todo o período do trekking.

Local público de coleta de água em Confluência


A água chega canalizada através de uma mangueira. Detalhe: o mato congelado!


Um pequeno verme encontrado na água. Faz bem! Dá mais anticorpos! Mas eu usei o filtro portátil 😅


Não há lugar para tomar banho, exceto se pagar o uso do banheiro das empresas. Como quem me conhece sabe que eu não gastaria dinheiro assim, usei o terceiro dia do trekking, o qual foi meu dia de descanso, para solucionar isso. Esperei o horário de 14h00 (período mais quente do dia), peguei uma garrafinha e meu sabonete, e fui tomar banho no local de coleta d´água. Apesar de umas rajadas de vento gelado e dos olhares assustados das pessoas que talvez nunca tenham visto alguém tomar banho ali, consegui cumprir a missão. Foi o único banho do trekking de 7 dias!

Banheiro público de Confluência. Somente sanitário, zero banho


Existe um médico disponível em Confluência e, assim como em Plaza de Mulas, todos os trilheiros devem passar por um check up com ele pelo menos uma vez durante sua estadia. Está incluído no permiso do Parque. De acordo com as regras do Parque, caso a pessoa não passe pelo médico e tenha que ser resgatada por ter passado mal, deverá arcar com os custos do resgate. O posto médico está aberto a partir das 18h normalmente.


DICAS ÚTEIS

1) Em dezembro/janeiro, o dia está claro de 6h às 21h. O sol só começa a aquecer às 9h;

2) Consumir de 3 a 4 litros de água por dia;

3) Não gosto de tomar remédios, mas levei alguns. Um deles foi o Ibuprofeno para amenizar o mal da altitude. Tomei 1 comprimido ao dia; a dipirona para as dores de cabeça que ocorrem antes de aclimatar; e para possíveis diarréias, o Cloridrato de Loperamida (não usei);

4) Levar saco de dormir para temperatura extrema -30°C / -40°C. Também é importante ter uma barraca de montanha, com cortinas que possam ser apoiadas com pedras; e

5) Levar uma pasta de papel pequena para guardar o "permiso" do Parque.


MAPA DO PARQUE DO ACONCÁGUA



MEU ROTEIRO

Anterior: PUENTE DEL INCA

Roteiro completo: TREKKING ACONCÁGUA

Próximo: PLAZA FRANCIA


Comentários

  1. Parabéns pelos seu post, muito bem detalhado. Irei passar pela cordilheira este mes e quem sabe durma uma noite no confluência.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.