Noruega: Museu Kon-Tiki do lendário Thor Heyerdahl

As expedições do navegador norueguês que revolucionou a arqueologia 


Meu primeiro objetivo na cidade de Oslo foi visitar esse lugar. Confesso que fiquei na dúvida até o dia que cheguei em frente ao museu, afinal o valor da entrada era absurdo (aproximadamente R$ 60!!!), mas a oportunidade de conhecer as histórias desse explorador que eu sempre li referências nos livros de arqueologia falou mais alto! O norueguês Thor Heyerdahl poderia ser um personagem de um filme de aventura, como o Indiana Jones dos mares, mas ele e suas expedições aconteceram de verdade!


COMO CHEGAR?

O Museu Kon-Tiki está localizado na Península Bygdøy, em Oslo, e é possível chegar lá de transporte público. Uma das opções é o ônibus nº 30 que parte a cada 10 min de Jernbanetorget (Estação Central de Oslo), Rådhuset (Prefeitura) e Solli. A segunda opção, que eu escolhi, é o ferry que parte de Rådhuskaien (City Hall Pier), de abril a outubro, a cada 20 min. Basta desembarcar na segunda parada (Bygdøynes), a 200 metros do Museu Kon-Tiki. Existem as seguintes opções de ticket: Só ida comprada na cabine (50 NOK); Só ida comprada no ferry (60 NOK) e ida/volta (75 NOK). Valores de julho 2019.

Os ferries saem a cada 20 min  de Rådhuskaien (City Hall Pier) em direção a Península Bygdøy


O ticket é mais barato se comprado na cabine em frente ao local de embarque


Ferry sai a cada 20 min e só funciona na alta temporada, de abril a outubro


O MUSEU

O museu abre todos os dias da semana durante todo o ano de acordo com os seguintes horários:

De novembro a fevereiro: das 10h00 às 16h00
De março a 10 de maio: das 00h00 às 17h00h
De junho a agosto, das 09h30 às 18h00
De setembro a outubro, das 10h00 às 17h00

A entrada custou 120 NOK (julho 2019). Mais informações no site do museu: https://www.kon-tiki.no/.

Museu Kon-Tiki das expedições de Thor Heyerdahl


Réplica em tamanho real de um moai da Ilha de Páscoa


Réplica de estátua de Viracocha encontrada em Tiahuanaco, na Bolívia


Distribuição das salas no museu


THOR HEYERDAHL

Thor Heyerdahl nasceu em 6 de outubro de 1914 em Larvik, uma pequena cidade costeira ao sul de Oslo. Era bom em desenho e aos oito anos desenhava imagens imaginativas das ilhas do Mar do Sul e resolveu se tornar um explorador quando crescesse. Ele queria fugir da civilização ocidental e sobreviver apenas do que a natureza o proporcionasse. Convenceu sua namorada Liv a ir para Fatu Hiva, uma das Ilhas Marquesas na Polinésia Francesa. Thor tinha 22 anos de idade e Liv tinha 20 anos. Eles começaram a se interessar por histórias locais sobre a origem dos antepassados ​​de Fatu Hiva. A teoria de Heyerdahl de que os povos indígenas da América do Sul foram os primeiros a povoar a Polinésia tomou forma.

A convivência com o povo polinésio deu o "start" na teoria de Heyerdahl


Thor Heyerdahl comparou os idiomas polinésios com os da América do Sul


BARCO KON-TIKI

Em 28 de abril de 1947, uma jangada carregando seis homens e um papagaio partiu de Callao, no Peru. Seu capitão era Thor Heyerdahl, então com 33 anos de idade, e seu destino era a Polinésia. A expedição era resultado da teoria que Heyerdahl vinha ponderando desde sua permanência em Fatu Hiva. Entre as provas circunstanciais apontadas por Heyerdahl, estava a história de Kon-Tiki Viracocha, um chefe nativo que, segundo a lenda, navegou para o oeste do Peru até o pôr do sol em uma grande jangada.

Barco Kon-Tiki em forma de uma grande jangada


Heyerdahl apresentou sua teoria a um grupo de importantes antropólogos americanos em 1946, mas eles ignoraram. Um deles chegou a desafiar: “Claro, veja até onde você consegue navegar do Peru até o Pacífico Sul em uma jangada!”. No entanto, Heyerdahl acreditava que os ventos do leste e a corrente de Humboldt levariam o Kon-Tiki à Polinésia. Os principais especialistas em antropologia e marinharia consideraram altamente improvável que a jangada alcançasse seu destino. Alguns até avisaram que se desintegraria nas primeiras duas semanas e que a expedição era suicídio.

Correntes marinhas usadas para navegar do Peru à Polinésia numa jangada


Bandeiras com as nacionalidades da tripulação do Kon-Tiki


Após 101 dias no mar, o Kon-Tiki encalhou em um recife de corais do atol de Raroia, na Polinésia. A expedição tinha sido um sucesso e Thor Heyerdahl e sua tripulação demonstraram que os povos sul-americanos poderiam de fato ter viajado para as ilhas do Pacífico Sul. O livro The Kon-Tiki Expedition, publicado em 1948, foi traduzido para mais de 70 idiomas e dezenas de milhões de cópias foram vendidas até hoje. O filme do mesmo título, filmado pela tripulação durante a viagem, ganhou o Oscar de melhor documentário em 1951. Ele é exibido continuamente no museu.

Maquete do barco Kon-Tiki


O documentário vencedor do Oscar de 1950 é exibido diariamente às 12:00 no cinema do museu


GALÁPAGOS

Depois do sucesso do Kon-Tiki, alguns opositores da teoria de Thor Heyerdahl questionaram que "se o povo da América poderia navegar até a Polinésia, por que não chegaram às Ilhas Galápagos que eram mais perto?" Heyerdahl já havia provado sua teoria na prática, poderia ter ignorado seus opositores, e o que ele fez? Provou mais uma vez! Organizou e liderou uma expedição arqueológica às Ilhas Galápagos em 1953. Este foi o primeiro trabalho arqueológico já feito no arquipélago. Os arqueólogos encontraram uma flauta inca e fragmentos de mais de 130 objetos de cerâmica, que mais tarde foram identificados como pré-Inca, o que sustentou sua teoria. A equipe de pesquisa concluiu que nunca houve um assentamento permanente no arquipélago porque a água potável só está disponível na estação chuvosa.

Objetos encontrados nas escavações de Galápagos


ILHA DE PÁSCOA

Thor Heyerdahl partiu em uma nova expedição em 1955, desta vez para a Ilha de Páscoa com cinco arqueólogos. Sua equipe escavou as estátuas moais e descobriu que, sob as cabeças, existiam torsos colossais. O livro de Heyerdahl sobre a expedição Aku-Aku: O Segredo da Ilha de Páscoa foi publicado em inglês em 1958. Ele lançou um documentário, Aku-Aku, sobre a expedição em 1960.

Estatuetas de madeira tradicionais chamadas de Moai Kavakava


A equipe da expedição também recebeu acesso a cavernas secretas de propriedade das famílias nativas da ilha. Pequenas esculturas antigas encontradas nessas cavernas eram, de acordo com a população local, transmitidas através de gerações. Ninguém, exceto a população local da Ilha de Páscoa, sabia dessas esculturas antes da expedição. Heyerdahl comprou cerca de 900 esculturas antigas.

Estranhas esculturas antigas adquiridas por Thor Heyerdahl


Esses objetos eram passados de geração em geração nas famílias nativas


Cerca de 900 estatuetas foram trazidas da Ilha de Páscoa


Não parece um extraterrestre? 😲


Heyerdahl retornaria à Ilha de Páscoa em 1986 numa expedição conhecida por testar uma lenda local de que as estátuas colossais “caminharam” para seus respectivos postos ao redor da ilha. Heyerdahl foi auxiliado por um engenheiro checo e por um grupo de dezesseis residentes locais em uma tentativa de mover um moai em pé, puxando-o com cordas presas à cabeça e base da estátua. Eles conseguiram fazer com que a estátua de 15 toneladas "andasse" sem muita dificuldade. Heyerdahl considerou que o mistério da locomoção das estátuas foi resolvido.


BARCO RA II

Tudo começou depois que Thor Heyerdahl explorou a Ilha de Páscoa e descobriu representações de barcos de junco com mastros e velas. Ele quis demonstrar que as civilizações pré-históricas poderiam ter estado em contato umas com as outras por meio de barcos de junco.

O barco Ra II, semelhante ao desenho encontrado na Ilha de Páscoa


Em 1969, o barco Ra (em homenagem ao antigo deus egípcio do sol) foi construído de papiro local em frente à Grande Pirâmide de Gizé, no Egito. Foi então transportado para a cidade costeira marroquina de Safi, onde foi lançado. Heyerdahl reuniu uma equipe de sete homens, todos de diferentes nações. O barco de papiro percorreu 5.000 km em 8 semanas, apesar de sua construção inadequada e de um mastro quebrado. Começou a entrar água e Heyerdahl abortou a expedição, faltando apenas uma semana para chegar ao seu destino.

A construção do barco Ra foi feita em frente às pirâmides de Gizé


As técnicas de construção se perderam na África e o barco Ra colapsou


Dez meses depois, Heyerdahl lançou o Ra II do mesmo porto marroquino. Desta vez, usou quatro índios aimarás do Lago Titicaca para construir o navio. Barcos de junco semelhantes aos da antiga Mesopotâmia e do Egito ainda eram feitos por artesãos dessa área na Cordilheira dos Andes. O Ra II percorreu 6.100 km em 57 dias de Marrocos a Barbados e Heyerdahl provou mais uma de suas teorias.

Uma tripulação multicultural para cumprir mais essa missão


Com o barco Ra II, Heyerdahl provou que era possível atravessar da Africa para as Américas


OUTRAS EXPEDIÇÕES

Thor Heyerdahl morreu em 18 de abril de 2002, aos 87 anos, mas sua vida foi muito mais do que a história que o museu conta. Ele continuou se aventurando e contribuindo com a exploração arqueológica em lugares até então não explorados:

Tigris (1978–1979) - Heyerdahl mais uma vez provou a navegabilidade dos barcos oceânicos de junco, permitindo que as civilizações do Egito, da Mesopotâmia e do Vale do Indo tivessem contato frequente.

Maldives (1983-1984) - Nenhum arqueólogo havia explorado as Maldivas desde 1922. Heyerdahl liderou duas expedições arqueológicas por lá, em 1983 e em 1984.

Túcume (1988-1992) - De 1988 a 1992, Thor Heyerdahl liderou escavações arqueológicas no complexo da pirâmide de La Raya, perto de Túcume, Peru. O local tem 26 estruturas em forma de pirâmide construídas com tijolos secos ao sol, às vezes chamado de adobe. As escavações em Túcume eram, na época, o maior projeto arqueológico do mundo.


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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.