Egito: A comunidade Copta no velho Cairo

Um núcleo cristão que ainda resiste no meio de um país islâmico


A religião copta é uma das vertentes mais antigas do cristianismo. Não é subordinada à Igreja Católica, tendo inclusive seu próprio Papa. Os coptas estão no Egito desde os primórdios da história de Jesus, muito antes do islamismo chegar no país, e seus seguidores foram os responsáveis por conservar escrituras dessa época que seriam destruídas pelos católicos no resto do mundo. Fui conhecer de perto essa religião no meu último dia no Cairo.


COMO CHEGAR?

O jeito mais econômico e rápido para se chegar é pegar o metrô em direção a Estação Mar Girgis. Após desembarcar e sair da estação, o portão do museu está bem em frente. Para informações sobre a linha de metrô do Cairo, veja o post Dicas de Transporte pelo Egito.

Referência para a área copta (principalmente para taxistas árabes) é a mesquita Amr ibn Al Aas, que fica ao lado


Tentei fazer a visita enquanto eu voltava do mercado Khan el-Khalili. Peguei um táxi e indiquei o lugar de destino, para minha surpresa o taxista era cristão copta, mostrou que tinha um terço e uma foto de São Jorge. Cheguei no local e me deparei com um bloqueio militar em frente à área copta. Um dos militares me informou que já tinha passado das 16h00 e nesse horário fecham os acessos e ninguém mais passa. Toda essa segurança por causa de possível ameaça terrorista islâmica.

A comunidade copta fica na Rua Virgem Maria


No dia seguinte eu tentei novamente. Como eu estava em Gizé, próximo às pirâmides e longe do metrô, peguei um táxi para percorrer a distância de 13 km até o Cairo Velho. No táxi indiquei o local usando a estação de metrô como referência, mas percebi que o taxista estava se afastando da rota. Eu não havia tido problemas com taxistas até aquele momento (era meu último dia no Egito) e foi então que comecei a me estressar e gritar com ele, perguntando onde estávamos indo. Minutos depois o táxi chegou no destino, depois de dar uma grande volta. Tive que pagar 80 EGP pela corrida, e não sei se ele se enrolou ou se tentou me enrolar.

O taxista fez uma rota bem maior, não sei se é bobo ou se faz


FORTALEZA DA BABILÔNIA

A comunidade copta se concentra no local conhecido como Fortaleza da Babilônia. Esse nome teria surgido na ápoca em que os persas dominaram o Egito. Eles tinham um povoado no local que deram o nome em homenagem à Babilônia. Era um local estratégico, ao norte da capital egípcia Memphis. Séculos depois o lugar foi ocupado pelos romanos que construíram a atual Fortaleza. Aquele seria o início da grande cidade do Cairo.

As igrejas e o museu estão dentro das muralhas


Hoje em dia os coptas representam cerca de 10% a 20% da população do Egito, sendo a maior comunidade cristã do Oriente Médio. E religião vem diminuindo, principalmente quando tentam casar, já que o Alcorão proíbe que muçulmanas se casem com judeus ou cristãos.

A Igreja Copta segue tradições da Igreja Ortodoxa Grega


MUSEU COPTA

Para entrar no museu a segurança é forte. Tive que ser revistado e passar no raio-x. A máquina fotográfica deve ficar na entrada, mas diferente de outros lugares no Egito, existia um escaninho com chaves para guardar, tudo bem organizado. Ser identificado como brasileiro também ajuda, em outros museus a segurança é muito mais rígida com árabes estrangeiros. O museu funciona diariamente de 9h00 às 16h00 e o valor do ingresso custava 70 EGP (agosto 2014). Para mais informações, acesse o site oficial do Museu Copta

Portão de entrada para a área do museu


O museu possui 2 andares. O superior está dividido em 8 salas e 5 seções diferentes: A seção dos manuscritos com 700 livros, 1000 documentos, 578 papiros, os mais velhos em grego. A seção têxtil, com telas coptas. A seção dos ícones, osso e marfim, e por último, a seção de peças de metal e jóias. O teto de madeira do museu é uma das coisas mais bonitas.

Partes da antiga fortaleza no pátio do museu inaugurado em 1910


Dentre as relíquias históricas que considero como mais importantes que se encontram no museu, estão: o Saltério ou "psalter", que é um volume contendo o Livro dos Salmos, e a Biblioteca de Nag Hammadi (século 3 ou 4). Nag Hammadi é o nome da cidade egípcia onde os textos foram encontrados, próximo a Dendera. Nesse link falei sobre os achados.

Texto copta do Apocalipse de João (imagem da internet)


Dos códices de Nag Hammadi, estão expostas ao público apenas duas páginas. A página da esquerda com o final do Apocalipse de João e o começo do Evangelho de Tomás, e a página da direita com parte do texto A Origem do Mundo, considerados de teologia gnóstica, foram traduzidos originalmente do grego para o copta. 


IGREJA SUSPENSA

A Igreja Suspensa é a mais famosa igreja copta e a primeira a ser construída na forma de basílica nesta religião. Antes de sua construção havia uma capela menor no local, isso no século 3 ou 4. A sede do Papado Ortodoxo Copta foi, historicamente, a cidade de Alexandria, mas após a invasão árabe do Egito, o Cairo se tornou a residência fixa e oficial do Papa copta na Igreja Suspensa.


A Igreja Suspensa (Hanging Church, em inglês)


Nos muros de entrada estão vários mosaicos e figuras da religião copta


Quadro com foto de todos os Papas Coptas


A aparência dos Papas não é nada simpática


Seu nome oficial é Igreja Ortodoxa Copta da Santa Virgem Maria, mas com esse nome gigante acaba sendo conhecida só por Igreja Suspensa (por ficar no alto). O nome da igreja tem ligação com lendas de aparição da Virgem Maria naquele local. Para entrar, as mulheres devem estar com ombros e pernas cobertos, já o cabelo pode ficar descoberto. As imagens dos santos são representadas em quadros chamados de Ícones, não em estátuas como é feito na Igreja Católica. Nesta igreja existem 110 Ícones.

O interior é todo trabalhado em madeira


A igreja é o local de relatos de aparições de Maria 


Ícones de São Jorge (esquerda) e São Jerônimo (direita)


IGREJA DE SÃO JORGE

Outra igreja que visitei dentro das muralhas foi esta dedicada a São Jorge da Capadócia. Na entrada existe um convento que estava fechado, logo depois está a escada para esta igreja do século 10, que foi reconstruída depois de um incêndio em 1904.

A cúpula da Igreja de São Jorge vista da Igreja Suspensa


Um dos destaques da igreja é este relevo de São Jorge e o Dragão


A arquitetura interna também é bastante bonita


Arte sacra no teto da igreja


Pequena capela e o ícone de São Jorge


Altar de Ícones de santos da Igreja Ortodoxa Copta


Detalhes da arquitetura e, no alto, uma cruz com a figura de Cristo


OUTRAS ATRAÇÕES

Uma dica importante para visitar as igrejas é chegar cedo! Elas fecham às 16h00, se eu soubesse disso teria deixado para conhecer o museu por último (perdi muito tempo explorando as peça históricas). Com mais tempo para conhecer o Cairo Copta, você ainda pode ver a Igreja de Abu Serga (São Sérgio), a Igreja de Santa Bárbara, o Monastério de São Mercúrio e ainda a Sinagoga Ben Ezra (uma igreja copta vendida ao judeus para arrecadar impostos e pagar o governo).

Atrações do Cairo Velho (clique para ampliar)


FIM DA VIAGEM AO EGITO

O táxi de volta ao hotel em Gizé custou 50 EGP. Com isso, encerrei minha jornada pelo Egito e segui para embarcar de volta ao Brasil. Apesar do cansaço de viajar durante 20 dias debaixo do sol escaldante e terras empoeiradas, tudo valeu a pena. Minha próxima parada seria Frankfurt, na Alemanha, numa conexão aérea.


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Sobre o autor

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Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.