Grécia: Olympia, Micenas e Corinto na Páscoa Ortodoxa

Uma viagem frustrada pelo Poloponeso na Páscoa Ortodoxa


Durante minha exploração pelo interior da Grécia buscando as atrações naturais e sítios arqueológicos, descobri que a Páscoa da religião Ortodoxa caía num dia diferente da Páscoa que temos no Brasil, a Páscoa Católica.  O cálculo do dia é feito considerando a Páscoa Judaicas, ou seja, a contagem é do calendário Juliano e não do Gregoriano. Deve ser no primeiro domingo após a primeira lua cheia, depois do equinócio da Primavera. Resumindo, a Páscoa Ortodoxa aconteceria naquele ano uma semana depois da católica e, por eu desconhecer isso quando planejei o roteiro, isso colocaria em risco a exploração aos sítios arqueológicos que fechariam devido às festividades.


A PRIMEIRA FRUSTRAÇÃO: OLYMPIA

Depois de percorrer 65 Km desde Kyllini (1h), passando por Pyrgos, cheguei na cidade de Olympia depois das 15h e então, na bilheteria, estava a primeira má notícia: o sítio arqueológico e os museus estavam fechados! Imagina o tamanho da minha revolta/frustração em planejar uma exploração no interior da Grécia, com roteiro "amarrado" e ser impedido de entrar naqueles locais que sempre estavam nos meus estudos dos povos antigos, principalmente nas ruínas do local que surgiu as Olimpíadas.

Chegada na cidade que inventou as Olimpíadas


MUSEUS DE OLYMPIA

Além do sítio arqueológico, a cidade ainda possui 3 museus relacionados à antiguidade. Abaixo estão os horários de funcionamento em abril de 2015:

- Museu Arqueológico de Olympia: De terça a domingo (8h-15h); Segunda (10h-17h).

- Museu da História dos Jogos Olímpicos na Antiguidade: De terça a sexta (8h-15h); Segunda (10h-17h); Sábado, domingo e feriados (fechado).

- Museu da História das Escavações em Olympia: De terça a sexta (8h-15h); Segunda (10h-17h); Sábado, domingo e feriados (fechado).

Além das ruínas, existem mais 3 museus relacionado à antiga cidade e seus jogos


SÍTIO ARQUEOLÓGICO DE OLYMPIA

O sítio arqueológico de Olympia funciona diariamente de 08h às 15h e seu ticket custa 6 euros. Também existe a opção de sítio + museu por 9 euros. Acredito que esse seja o horário de inverno que ainda estava em vigor em abril. Cheguei exatamente às 15h e o sítio havia fechado. Pior que isso, não abriria no dia seguinte, domingo de páscoa. Tentei (já em estado de desespero!) pedir para a funcionária da bilheteria que me deixasse entrar por apenas 15 min, é claro que foi em vão, mas acho que ela se comoveu e me ensinou um truque: andar pela beira da estrada que passa em frente da entrada do sítio e, em certo ponto da cerca, a estrada fica mais alta e é possível ver toda a área de ruínas arqueológicas.

Não foi preciso entrar no sítio para ver a área das ruínas, sendo vista pela cerca da estrada


Um antigo arco grego na cidade antiga


Foi em Olympia que surgiram as Olimpíadas. Diz a lenda que após Hércules ter completado seus 12 trabalhos, ele construiu o estádio Olímpico em veneração a Zeus, andando em linha reta 200 passos. Essa distância foi chamada de estádio, que mais tarde tornou-se uma unidade de distância. Os primeiros Jogos Olímpicos teriam sido realizados em 776 a.C., data baseada em inscrições encontradas dos vencedores de uma corrida a pé realizada.  

A cada 4 anos eram realizados jogos neste lugar em honra aos deuses


Os jogos eram realizados a cada quatro (período chamado de Olimpíadas) anos e eram considerados também como cerimônia religiosa, tanto que havia uma trégua nas guerras durante esse período para a comemoração. Encerrados em 393 d.C., os jogos ressurgiram na era moderna em 1896, sendo sediados no estádio Panathinaiko em Atenas.

As principais ruínas históricas são: Templo de Zeus, Templo de Hera e Philippeion


Em Olympia também ficava uma das 7 maravilhas do mundo antigo, a Estátua de Zeus. Esculpida em um trono pelo ateniense Fídias, no século V a.C., supõe-se que a construção tenha levado 8 anos. A estátua media de 12 a 15 metros de altura e era toda de marfim e ébano. Os olhos eram de pedras preciosas. Na mão direita levava a estatua de Nike, deusa da Vitória e na esquerda, uma esfera sob a qual se havia uma águia. No período romano (século 5 d.C.) a estátua foi levada para Constantinopla onde desapareceu, provavelmente destruída para retirar sua riqueza.

Ruínas do Templo de Zeus, local em que ficava uma das 7 maravilhas do mundo antigo


AVENTURA NAS ESTRADAS DO PELOPONESO

Na estrada novamente, dessa vez em direção a histórica Micenas. Para chegar lá era necessário encarar as estradas estreitas e cheias de curva na montanhosa península do Peloponeso, que na verdade é uma grande ilha depois que foi aberto o Canal de Corinto. Apesar das dificuldades e perigos da estrada, as paisagens são sensacionais.

Estradas milenares, estreitas e sinuosas, que seguem pelas montanhas


Pelo caminho, estão algumas pequenas cidades no cenário das montanhas


Peloponeso deriva do antigo herói grego Pélope com a palavra grega para ilha (níssos)


Depois de ter batido o carro em Delfos, conforme expliquei neste post, eu não havia percebido que a roda traseira havia sido deformada. Com as intensas curvas da estrada, a roda ficou mais torta, mas eu não vi diferença. Um carro com um casal de idosos buzinou e tentou explicar que a roda estava com problemas. Como ainda teriam muitos quilômetros pela frente, foi necessário trocar o pneu do carro em algum lugar das montanhas, onde deu para parar.

A roda do carro deformou e teve que ser trocada, bem distante da civilização


Uma nascente na beira da estrada, parece ser bastante antiga, muitos viajantes já devem ter parado aqui


E olha quem eu encontro no meio da estrada: o jogador brasileiro Vagner Love!


Depois de horas nas montanhas, de volta às planícies


A SEGUNDA FRUSTRAÇÃO: MYCENAS

Como nada é tão ruim que não possa piorar, cheguei em Micenas depois de percorrer 165 Km (cerca de 2 h 30 min), descobri que os horários para a Páscoa Ortodoxa estavam padronizados também naquele sítio, estava fechado. Acho melhor nem contar o sentimento de raiva e frustração que senti em perder essa oportunidade de explorar Micenas. O retorno é certo algum dia...

Micenas fica a 127 Km de Atenas


A entrada no sítio arqueológico custa 8 euros, mas estava fechada


De acordo com a mitologia, Micenas teria sido fundada por Perseu foi a morada do lendário Rei Agamenon. Era uma cidade fortificada com muros ciclópicos, chamados assim por possuírem pedras tão grandes que se acreditava terem sido feitos pelos ciclopes, os monstros mitológicos de um olho. Foi descrita por Homero na Ilíada e na Odisseia. Baseado nessas lendas, o arqueólogo alemão Schliemann (o mesmo que descobriu Tróia),  encontrou 5 dos 6 túmulos reais existentes nos quais estavam enterrados os heróis mitológicos de Micenas.

Da estrada, a vista das muralhas ciclópicas de Micenas


A TERCEIRA FRUSTRAÇÃO: CORINTO

Depois de rodar mais 36 Km e de "dar de cara com a porta" em Olympia e Micenas, eu já não tinha esperanças no que seria minha próxima parada do roteiro: a cidade bíblica de Corinto. O sítio arqueológico normalmente funciona de 08h00 às 19h00, mas naquele fatídico dia, fechou também às 15h00. No dia seguinte, domingo de Páscoa Ortodoxa, também não abriria. O jeito foi fazer como em Olympia, ou seja, observar as ruínas pelas grades do muro.

Na estrada já é possível ver Acrocorinto, a Acrópolis de Corinto


Corinto foi uma importante cidade portuária da antiguidade, que movimentavam sua economia. Havia 2 grandes templos, o Templo de Afrodite  e o Templo de Apolo. Foi nessa cidade que o apóstolo Paulo, em sua segunda viagem missionária, estabeleceu uma igreja e escreveu as epístolas aos cristãos que estão na bíblia (I e II corintios), como conta o livro de Atos 18:1-18. 

Ao redor do sítio arqueológico está um pequeno povoado


Diz a lenda que no templo de Afrodite havia 1.000 sacerdotisas que nos finais de tarde desciam até a cidade e vendiam seus corpos, sendo uma forma de culto ao sexo. Isso é uma ligação da prostituição com a religião na antiguidade. Além disso, Corinto também tinha sua versão de jogos olímpicos, chamados por lá de "Jogos Ístimicos".

A cidade é famosa também na bíblia, livro que contém as cartas do apóstolo Paulo aos coríntios


A colunas coríntias tinham seu estilo particular na arquitetura 


DOMINGO DE PÁSCOA ORTODOXA

Depois de viajar pelo Peloponeso e não conseguir entrar nos sítios arqueológicos, a noite caiu e eu resolvi dormir na pequena vila formada entorno do sítio de Corinto. Para economizar a hospedagem a minha cama foi dentro do carro mesmo. 

Acordando igual um mendigo na noite fria de Corinto


O sono estava bom, até que eu fui acordado com um barulho de fogos de artifício na madrugada! Era o início do domingo da Páscoa Ortodoxa. Pouco antes da meia-noite, as pessoas se reúnem na igreja, segurando velas brancas e, exatamente na virada do dia, os sinos das igrejas tocam enlouquecidamente e fogos estouram nos céus. O show dura uns 15 minutos, quase um reveillon em Copacabana!

Fogos e sinos fazem uma virada de noite barulhenta para o domingo de Páscoa


No domingo pela manhã, em muitas partes do país, é preparado o cordeiro assado no espeto a ser acompanhado da bebida típica retsina. No feriado em que nada abre, fui explorar o outro lado de Corinto: a cidade moderna e seu canal.


MEU ROTEIRO

Anterior: LAGOA MELISSANI

Roteiro completo: MISSÃO GRÉCIA

Próximo: CANAL DE CORINTO


Comentários

Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.