Noruega: A assustadora pedra de Kjerag

Uma das trilhas mais desafiantes e incríveis do mundo


Minha ida até Lysebotn não foi só para pernoitar ou conhecer aquele lugar bonito, tinha um desafio  maior me esperando na manhã seguinte. A trilha de Kjerag ("Tzerag" como se pronuncia em norueguês) é uma das mais icônicas da Noruega, não somente pela beleza do percurso, mas por causa de uma pedra encaixada numa fenda nas rochas sobre o Fiorde de Lyse que criam um cenário assustador e incrível ao mesmo tempo para quem enfrenta o medo de subi-la. E você, teria coragem?

Representação do relevo da trilha de Kjerag


COMO CHEGAR?

A trilha para Kjerag começa no centro de visitantes de Øygardsstølen, próximo à cidade de Lysebotn. As maneiras mais populares de se chegar lá é dirigir de Oslo até Lysebotn (500 km / 7h30min) ou pegar um vôo até a cidade de Stavanger, e então, embarcar num ônibus turístico (640 NOK ida e volta) até o início da trilha. O trajeto de Stavanger até o local é de cerca de 2h 30 min e o ônibus espera por 6 horas até voltar. A reserva do ônibus pode ser feita neste link.

Trajeto de Stavanger até o início da trilha para Kjerag


Ônibus turístico que liga Stavanger até o início da trilha


No meu caso, a forma de alcançar o início da trilha foi diferente: cheguei em Lysebotn no dia anterior através de um ferry que embarquei no porto de Forsand. Nos meses de verão, funciona a linha Lysefjord Speed Ferry, da empresa Kolumbus, que faz o trajeto Forsand x Lysebotn todos os dias, exceto aos sábados, às 6h10 e às 14h00. Sextas e domingos também funciona no horário das 16h50. Importante: o ferry é pequeno e comporta apenas 6 carros, logo é necessário reservar com antecedência. Antes da viagem fiz a reserva através deste link e custou 410 NOK o carro + motorista. Passageiros adultos extras custam 119 NOK por pessoa (julho 2019). Pernoitei na fazenda Hauane Bed & Breakfast e na manhã seguinte subi a estrada estreita que faz zig zag até o estacionamento de Øygardsstølen e cobra 300 NOK por carro (julho 2019). Uma dica para quem está de motorhome ou quer economizar dormindo no carro é estacionar numa área aberta no meio da estrada que sobe para Kjerag.

Estacionamento grátis encontrado na subida da estrada em zig zag para Kjerag


Estacionamento do centro de visitantes de Øygardsstølen


TRILHA PARA KJERAG

A subida se inicia no centro de visitantes de Øygardsstølen que possui estrutura com estacionamento, WC, restaurante e até um albergue. A caminhada até a montanha Kjerag possui 4,5 km e até a Kjeragbolten (a principal atração) tem 4,8 km. Sendo assim, a estimativa é que o percurso de ida e volta seja de 10 km, calculando-se: 2 horas para ir + 1 hora para fotos + 2 horas para voltar, totalizando 5 horas de atividade. Como a trilha é longa, recomendo levar comida, uma garrafa de água, protetor solar e calçado apropriado (botas ou tênis de hiking).

A subida começa em Øygardsstølen


A estimativa é de 10 km de caminhada total (5 horas)


A sinalização é boa, com totens e marcações de "T" na cor vermelha em algumas pedras indicando o caminho correto, sendo bem fácil a orientação e dispensando a necessidade de GPS ou contratação de guias. A trilha está aberta apenas nos meses de verão, entre 1 de junho e 30 de setembro. Durante os meses de inverno, o acesso é fechado por causa da neve que torna a caminhada perigosa. A neve pode cobrir as estradas e as trilhas até o final de maio.

A trilha está aberta apenas nos meses de verão quando a neve derrete


Marcações de "T" (trail) ajudam a orientação


No caminho existem lagoas formadas pela água do degelo


Iniciei a caminhada às 9h00 da manhã. A partir do estacionamento já começa a primeira subida. Esta é uma das partes mais difíceis e primeiro teste para os trilheiros sentirem como é subir naquelas pedras íngremes. Existem correntes fixadas em alguns pontos para ajudar a subir, principalmente se a pedra estiver molhada. Depois de alcançar o primeiro cume, há uma descida leve e passagem por um vale verde, um lugar muito bonito que parece cenário de filme. Nessa região são encontrados pontos de água potável corrente do degelo. Também é permitido acampar lá em cima e existe até um abrigo de emergência para uso em caso de perigo.

Vale verde localizado entre as duas elevações


Algumas ovelhas pastam naquelas montanhas


Abrigo de emergência existente para apoiar eventuais situações de risco


A segunda subida da caminhada é a mais curta, porém também é íngreme. A diferença é que possui degraus de pedras na maioria dos trechos. Depois de mais um pequeno vale se inicia a terceira subida, dessa vez para o cume do Kjerag. A montanha possui 1.110 metros de altura e nada mudou: mais um subidão íngreme! É possível ter uma vista sensacional do vilarejo de Lysebotn e do Fiorde de Lyse. Naquele percurso, presenciei também a prática de Base Jumping que é permitida desde 1994. Os praticantes saltam do penhasco utilizando um pára-quedas apropriado para abertura a baixas altitudes. Durante esse período foram registrados 131 acidentes, dos quais 11 fatais.

Mais um vale verde entre os cumes


A cor azul da água do degelo se destaca na vegetação


Depois de alcançar o cume do Kjerag, a caminhada continua por lajes de pedras e o caminho é balizado com totens gigantes até o local onde se encontra o Kjeragbolten. É uma região bem bonita e vasta. Cheguei no local da fenda às 10h40 da manhã, cumprindo o percurso com 1 h 40 min de caminhada. Apesar de ser o auge do verão, ainda havia gelo naquele local. Além da principal atração, também há um mirante do Fiorde de Lyse onde as pessoas se agrupam para descansar e contemplar a paisagem.

Totens com a altura de uma pessoa indicando o caminho correto


Chegada no local onde está a Kjeragbolten


Gelo ainda existente no auge do verão norueguês


Platô onde é possível contemplar a paisagem do Fiorde de Lyse


KJERAGBOLTEN

A principal e mais incrível atração da trilha é a Kjeragbolten (traduzindo, Pedregulho de Kjerag) que é uma pedra encaixada numa fenda com 984 metros de abismo abaixo. Não existe "pegadinha" ou truques de câmera como na Pedra do Telégrafo do Brasil, se cair da Kjeragbolten é morte na certa!

Foto clássica na Kjeragbolten


Para tirar a foto clássica sobre a Kjeragbolten existe um caminho que passa por trás da fenda, beirando o penhasco, sendo possível acessar a pedra. É "um pouco" desconfortável saber que tem quase 1 km de abismo debaixo dos seus pés mas, apesar de parecer que o topo da pedra é redondo, não senti dificuldade em pisar em cima. Achei interessante que, diferente dos demais pontos famosos da Noruega, como Preikestolen e Trolltunga, não havia fila para subir na pedra para fotos, mesmo estando no auge da alta temporada do país. Percebi que muitas pessoas fazem essa trilha para conhecer a pedra mas na hora "H" ficam com medo subir nela.

Vista traseira da foto clássica, onde está o caminho de acesso à pedra


E você, teria coragem?


Quase 1 km de queda abaixo dos pés


RETORNO PARA LYSEBOTN

O retorno foi mais tranquilo e não teve novidades. Cheguei no estacionamento às 13h20 e parei para almoçar uma comida enlatada que eu tinha no carro. Depois de abastecer a garrafa de água na pia do banheiro (eu creio que a água ali seja potável também 😂) segui viagem para descer a estrada em zig zag até o porto de Lysebotn onde eu embarcaria num ferry às 15h55 em direção ao porto de Songesand. A reserva foi feita pela internet antes da viagem através deste link. Dali em diante foram mais 5 horas de estrada, passando por outro ferry em Hjelmeland (não é preciso reservar), até chegar na cidade de Odda onde seria o meu pernoite. No dia seguinte, eu teria outro grande desafio: a trilha para Trolltunga!

O porto de Lysebotn pode ser observado do alto de Kjerag


MEU ROTEIRO

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Comentários

  1. as fotos sao bem legais mais pensa se a pedra cair e voce esta em sima voce MORE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.