CASCIA


 A cidade da santa das causas impossíveis

  

DESPEDIDA DE FLORENÇA 

Com a dica do atendente do hotel, segui até a rua Borgo Ognissanti, localizada entre a Estação Santa Maria Novella e o Rio Arno. Esta é a rua que concentra as “autonoleggio”, ou seja, agências de Rent a Car. Aqui está localizada a Avis, Europcar, Hertz e outras genéricas. A Hertz não tinha mais carro para alugar e a Avis estava lotada de gente fazendo fila. Tentei com uma agência genérica mas tinha limite de quilometragem e, para o meu objetivo que era rodar 3 dias com o carro pelo interior, não seria vantagem. Minha opção foi a Europcar. Apesar de mais cara, a agência não possuía limite de quilometragem e tinha carro para pronta entrega (me entregou na mesma hora).

Saiba mais sobre a cidade em Florença 



CRUZANDO AS ESTRADAS PELA PRIMEIRA VEZ 

Com o GPS Garmin Nuvi particular que levei na minha mochila, além de economizar o aluguel de GPS na Europcar, consegui me guiar até a cidade de Cáscia que ficava a 258 Km de distância a partir de Florença.

A Cidade de Cascia fica escondida nas montanhas da Umbria. Ao sair de Florença peguei a autoestrada Milano-Napoli que apesar de rápida, é taxada de pedágio.
Estradas entre as montanhas da Umbria

Eu não havia pesquisado sobre o funcionamento de pedágio na Itália, logo cheguei na cancela e era semelhante a um estacionamento de shopping (mas sem nenhum ser humano dentro): aperta-se um botão, retira-se um bilhete e a cancela abre para seguir viagem. Mas e a cobrança do pedágio? Será que entrei na cabine certa? Onde eu pago esse bilhete? Será que fiz algo errado e fui multado?

Depois dessas perguntas de marinheiro de primeira viagem nesse esquema de pedágio italiano, descobri que, ao sair da área de jurisdição da autoestrada, existe outro pedágio, dessa vez com um funcionário dentro (Ufa! Ainda bem!). O bilhete é colocado numa máquina que calcula a distância percorrida na via, emitindo o valor a ser pago. Resumindo: Paguei 6,30 Euros por rodar 69 Km desde Florença até a entrada de Arezzo (menos de 1 euro por cada 10 Km). Método inteligente e justo para se cobrar pedágios, sem falar que não passa nem perto dos preços abusivos cobrados nos pedágios brasileiros.

Os próximos quilômetros foram vencidos em estradas do interior estatais e sem cobrança de pedágio, todas bem preservadas e sinalizadas. Passei pelo imenso Lago Trasimeno, as cidades de Perugia e de Assis, até subir as montanhas da Umbria em direção Cascia. Paisagem incomparável do interior italiano, vale a pena só pelas imagens.


No caminho é possível avistar várias pequenas cidades "bem" italianas

Cenários e delas cidades, montanhas e igrejas no topo, como Assis

Outro detalhe que é impossível deixar de comparar com as estradas brasileiras é a quantidade e qualidade dos túneis. Sim, os túneis! Apesar do terreno montanhoso, o investimento de engenharia na construção de túneis facilita a vida do motorista e evita estradas sinuosas para cruzar montanhas. No início da tarde Cascia apareceria no horizonte.

Não se esqueça que a velocidade limite é controlada por radar e se está sujeito a multas. Atente para as cameras colocadas nas passarelas e na saída de túneis. 

Paisagens bonitas mas com o perigo sempre à espreita: deslizamento de pedras!

Algumas áreas da estrada possuem proteção contra deslizamentos


CHEGANDO NO SANTUÁRIO DE SANTA RITA 

Logo ao entrar no perímetro urbano da pequena cidade, se encontra um vasto local de estacionamento (2 euros na ocasião). Como não era data de festividade religiosa e a cidade estava vazia, talvez eu encontrasse outro local grátis para estacionar, mas não quis arriscar a tomar multa e deixei no estacionamento mesmo, afinal era a primeira vez que eu entrava de carro numa cidade histórica da Itália.


A bela e isolada cidadezinha de Cascia

Um santuário do século XXI que preste possui meios para proporcionar conforto a seus fiéis. Logo, no estacionamento se localiza uma série de escadas rolantes (mobiles, em italiano) e elevadores (ascensori, em italiano) que levam os romeiros até o alto da colina que está localizada a Basílica de Santa Rita, rodeada pela parte histórica de Cascia. É até engraçado ver as escadas rolantes no meio da cidade histórica, principalmente daquela forma, deserta de pessoas.


Ruas estreitas e desertas


 Do estacionamento de visitantes, quatro elevadores dão uma ajuda para subir até o Centro Histórico

 Tudo bem sinalizado para chegar nas atrações

 Pequena cidade de muitas escadas e subidas

O mais desconcertante: escadas rolantes a céu aberto lado a lado com construções históricas

A Basílica de Santa Rita não é nada monumental se comparada a outras igrejas na Itália, mas é bem bonita por dentro devido às suas pinturas com tom azulado ao fundo. 

O corpo de Santa Rita de 1,57 m se mantém conservado e fica exposto numa redoma de cristal do lado esquerdo de quem entra na igreja. O pé direito apresenta uma anomalia devido a uma doença nos últimos anos de vida, provavelmente uma inflamação no nervo ciático.

Ao redor do túmulo estão fotos de possíveis pessoas atendidas em milagres e objetos ofertados pelos fiéis. Dentre eles estão até camisas de futebol (!). Naquele momento eu imaginei se o tetracampeonato da squadra azzurra (apelido da seleção italiana) seria mais um milagre comprovado da santa das causas impossíveis...

A "pequena-grande" Basílica de Santa Rita

Mensagens à Santa Rita na decoração da fachada da basílica

Na porta de entrada da basílica, figuras representam cenas da lenda de Santa Rita

Pinturas em fundo azul fazem do interior uma obra de arte


 
Arte na cúpula da basílica

Visão geral do interior da Basílica de Santa Rita

À esquerda da entrada está o local que contém o corpo da santa

Redoma que guarda o corpo de Santa Rita

Rosto do corpo mumificado

Detalhe dos pés mumificados e a anomalia do lado direito

Presentes para a santa: Seria o título da seleção italiana uma causa impossível?

Na parte inferior da basílica está o corpo da beata agostiniana Teresa Fasce, falecida em 1947 e também venerada até hoje por fiéis que visitam o santuário. 

Ao sair da basílica, no lado direito, está a entrada do monastério que também pode ser visitado, de acordo com os horários disponíveis.


Estátua da beata Teresa Fasce na área externa do santuário


FELICIDADE DE RITA, UMA CAUSA IMPOSSÍVEL 

Resumindo a lenda de Rita de Cascia, é história de uma mulher extremamente religiosa que só teve infelicidade na vida até morrer e virar santa. Foi praticamente uma Joseph Climber!

Conheça a história de Joseph Climber: http://www.youtube.com/watch?v=kW11eBqHoCM 

Rita nasceu em 1381 na aldeia de Roccaporena e aprendeu desde criança somente ensinamentos religiosos dos pais (dizem que nunca foi à escola). Cresceu querendo se dedicar exclusivamente à religião, mas seus pais lhe escolheram um marido e a mesma casou por obediência aos pais. Pronto! Começava o inferno astral de Rita. Seu marido era alcoólatra, mulherengo e violento. Mesmo tomando muita porrada do marido, continuava serena e obediente, a ponto de conseguir mudar a personalidade do indivíduo e torná-lo uma pessoa de paz.

Tudo ia bem com o marido, engravidou e teve gêmeos. Um dia o marido não voltou para a casa e Rita descobriu que ele havia sido assassinado. Os filhos já crescido prometeram vingar o pai. Rita orou para que Deus não permitisse que seus filhos cometessem o pecado de tirar a vida de alguém e preferiu que eles morressem antes que pecassem. De repente, os filhos adoeceram e morreram. Antes de morrer, a mãe os convenceu a perdoar o assassino de seu pai.
Pintura de Santa Rita na Basílica

Rita então queria entrar para o convento das irmãs agostinianas, mas elas não a queriam aceitar por ter sido viúva. Um dia estava dormindo e acordou com o chamado de 3 santos: Santo Agostinho, São Nicolau Tolentino e São João. Ela os seguiu até a Pedra da Oração, que costumava rezar no alto da colina, e foi teletransportada para o interior do Monastério de Santa Maria Madalena, em Cascia. As freiras então aceitaram Rita na ordem por se tratar de um milagre.

Um dia, Rita pediu a Deus para ser participante de suas dores na cruz. Fez isso aos pés de uma imagem de Cristo e então caiu um espinho da coroa em sua face. Isso abriu uma ferida repugnante e com péssimo odor, que nunca se curou, apesar de que não fazia dor para a santa, segundo a lenda. As suas companheiras de convento, porém, não conseguiam conviver com isso. Rita então se afastou e viveu isolada até morrer.

Após o óbito, as religiosas tinham horror do odor fétido de sua ferida, mas o seu rosto pálido começou a tomar viva cor, a chaga cicatrizou, ficando apenas uma mancha vermelha, e então seu corpo começou a exalar um perfume cheiroso. Depois disso começaram a ser registrados milagres, como o de uma freira que curou um braço paralítico ao abraçar o corpo da santa. 

Bela paisagem vista do alto do santuário

Fora de datas santas, o santuário permanece vazio

Descendo as escadarias de volta

Nestas áreas históricas o tráfego de veículos é restrito a moradores

Como uma cidade parada no tempo e sem pessoas

PARTINDO PARA ROCCAPORENA

Depois de explorar a pequena cidade de Cascia, o desafio agora seria encontrar o isolado povoado de Roccaporena, cerca de 6 Km de distância, que teria sido o local em que Santa Rita morou e participou de alguns acontecimentos milagrosos.

Leia mais em: Roccaporena


GASTOS DO DIA (abril 2014) 

- Colazione – 2,80 euros
- Aluguel de carro (3 dias) – 250,31 euros
- Pedágio de ida – 6,30 euros
- Estacionamento – 2 euros
- Combustível – 38 euros 


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Comentários

  1. Meu e-mail p resposta : rcaciapereira@gmail.com
    Rita de Cacia

    Sobre deixar as malas no carro em estacionamento em Cascia, Italia.

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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.