Islândia (dia 3): Aventura sobre o gelo no Glaciar Vatnajökull

Caminhada na maior calota de gelo do país e em uma das suas cachoeiras mais exóticas


Depois de passar a noite fria dormindo dentro do carro à beira do Lago Jökulsárlón, acordei com os vidros embaçados devido a diferença de temperatura com o meio externo. Peguei minha escova de dentes e a panela suja de miojo que comi na noite anterior para lavar na margem do lago... foi então que me surpreendi com a paisagem que tinha lá fora. Como cheguei já pela noite não tinha visto a beleza do lugar onde eu estava.

O Lago Jökulsárlón é cheio de icebergs que se desprendem das geleiras



Patos e leões marinhos vivem nos arredores


Uma placa alerta sobre os perigos que o lago oferece


Segui na estrada (e que estrada!) para o terceiro dia de aventuras na Islândia


CAMINHADA NO GLACIAR VATNAJOKULL

Segui para o Hali Country Hotel onde era ponto de encontro do grupo que se reunia para fazer uma das atividades mais interessantes da Islândia: o Glacier Walk Tour, ou seja, um tour guiado pelas geleiras do imponente Glaciar Vatnajökull, a maior massa de gelo da Islândia (cobre 8% do território), a segunda maior da Europa em termos de área e a maior em termos de volume.

Ponto de reunião no Hali Country Hotel


Não é possível chegar na área do glaciar sozinho, primeiro por causa da segurança, sendo necessário utilizar equipamentos especiais de proteção e caminhada sobre o gelo. Segundo, porque o caminho até o gelo é feito por uma estrada acidentada, só acessível com bons veículos de tração 4x4. Então, é necessário contratar o tour em uma agência especializada, e a opção que escolhi e recomendo é a Glacier Adventure. Os preços e pacotes de tour disponíveis podem ser pesquisados através do site https://glacieradventure.is/ .

Briefing sobre a caminhada no glaciar realizado no Hali Country Hotel antes de começar o tour


Meu tour estava marcado para as 9h30 da manhã. Cheguei meia hora antes no local para um briefing sobre a atividade. O guia que nos acompanharia era o Siggi. Após explicar sobre a caminhada, perguntou se todos estavam com bota de trekking com cano alto pois era o ideal para se manter protegido de uma eventual torção no tornozelo. Eu estava de tênis assim como outros integrantes do tour, então ele anotou o número do calçado e buscou botas da agência para emprestar. Também trouxe, para todos, os grampos de caminhada sobre o gelo para ajustar ao tamanho do pé.

O guia fazendo o ajuste do grampo de acordo com o tamanho do pé


Embarcamos na viatura da Glacier Adventure e pegamos a estrada de asfalto por alguns quilômetros até entrar na estrada de pedras. O carro balançava devido à erosão daquele caminho que congela e descongela de acordo com a época do ano. Dentro do carro, o guia colocava algumas músicas islandesas para a gente ouvir e conhecer. Ao chegar no ponto máximo que o carro chega, o equipamento foi distribuído para o início da subida.

Não é qualquer van que chega lá. O veículo da Glacier Adventure encarou bem o terreno


Vestimos um boldrié antes de iniciar a trilha


Equipado e pronto para encarar a caminhada


O caminho começa cheio de pedras e passa por uma ponte até chegar no gelo. Muita gente pensa que vai encontrar neve, mas o glaciar é feito de gelo. Por isso, logo que se chega no gelo, é necessário calçar os grampos nas botas para conseguir caminhar. Siggi, o guia da Glacier Adventure, ensinou o passo a passo para prender corretamente os grampos nas botas. Depois de calçados, é importante levantar mais os pés ao se deslocar, pois a noção de espaço muda, e pisar forte para os grampos cravarem no gelo.

Caminho a pé até o gelo do glaciar


Uma ponte rústica facilita a travessia sobre o rio de degelo


Colocação dos grampos de gelo nas botas


Os primeiros passos para a adaptação no gelo


O passo tem que ser firme para fixar os grampos no gelo


Caminhar em um glaciar do tamanho do Vatnajökull é uma experiência marcante para qualquer um, principalmente para os brasileiros que não têm algo parecido no Brasil. O grupo era formado por duas americanas e dois alemães, além de mim e meu amigo brasileiros. O guia explicou que o Vatnajökull é usado como cenário de filmes simulando a superfície de outros planetas, como foi o caso filme Interestelar filmado lá.

O lugar parece um deserto de gelo


O filme Interestrelar foi filmado no Vatnajökull


A espessura do gelo pode atingir 1 km


Em vários pontos existe água embaixo da camada de gelo, às vezes em poça coberta por uma leve placa, outras vezes descendo da geleira em pequenos canais. A água é potável e o guia explicou a técnica para beber água sem ter que botar a mão na água gelada, basta colocar o piolet (martelo de caminhada no gelo) cravado sobre o canal de água e usar as mãos para abaixar, fazendo uma flexão de braços para botar a boca na água e beber.

Para beber água sem molhar as mãos na água gelada...


... deve-se abaixar com as mãos no piolet e beber a água diretamente no canal


Para fechar a caminhada na geleira, o guia nos levou até um local em que a natureza criou uma ponte de gelo, uma das formas mais exóticas e bonitas encontradas no glaciar. Durante o inverno, o glaciar forma também cavernas de gelo onde é possível entrar, já no verão o gelo derrete e desaba, sendo perigoso se aproximar de lugares assim.

Caminhada até locais exóticos no glaciar


Ponte de gelo que se formou naturalmente


O tour dura de 3 a 4 horas no total. No final, retornamos para a viatura pelo mesmo itinerário ao pé do glaciar. A viatura ainda fez parada na beira de um lago para observarmos os alces da região em seu habitat natural. Com certeza o walk tour com a Glacier Adventure foi uma das experiências mais inesquecíveis da viagem.

O grupo inicia o retorno até a viatura


Na descida eu já estava "expert" de caminhada sobre o gelo


Hora de desequipar e se despedir dos grampos e do piolet


Paisagem da região ao redor do glaciar. No inverno, o gelo toma conta disso tudo


Alces típicos da Islândia


O guia fez uma parada para observar os animais em seu habitat natural


SKAFTAFELL

Depois do almoço (uma boa lata de feijão enlatado!), desloquei 60 km até a região de Skaftafell. Esse foi um trecho da road trip que eu teria mudado no planejamento pois tive que voltar na estrada para trás. De qualquer forma, o deslocamento foi rápido até o Vatnajokulsthjodgardur (Vatnajökull National Park) que tem uma boa estrutura de parque e camping. O acesso ao parque é livre, porém é cobrada uma tarifa de 600 ISK para estacionamento de carros. O pagamento só é permitido com cartão de crédito em uma máquina. Também é possível acampar por 1700 ISK por pessoa. Veja as demais tarifas e serviços neste link.

Sede do Vatnajökull National Park em Skaftafell


Em Skaftafell existe estrutura para camping por 1700 ISK por pessoa


O parque oferece belas trilhas


SVARTIFOSS

O parque em Skaftafell possui algumas trilhas bem sinalizadas para explorar a região ao redor do glaciar Vatnajökull, mas a principal atração é a cachoeira Svartifoss. A trilha começa ao lado do Centro de Visitantes em Skaftafell, sendo que os primeiros 250 metros passam pelo acampamento, depois vira à direita e sobe. São 1,8 km de caminhada até a cachoeira (de 30 a 45 min). Svartifoss significa "catarata negra" por causa das colunas basálticas de lava escura.

Mirante no alto da trilha para a cachoeira 


A exótica queda d´água entre as colunas hexagonais de basalto


A aproximação é limitada por um mirante


É possível observar a Svartifoss por dentro do rio


No final do dia, retornei para o estacionamento na beira do Lago Jökulsárlón onde dormi mais uma vez dentro do carro. O dia seguinte seria a vez de explorar a Diamond Beach ali perto.


VEJA O VÍDEO

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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.