Travessia Lapinha x Tabuleiro (dia 3): Poço da Cachoeira do Tabuleiro

Trilha por baixo para o poço da maior cachoeira de Minas Gerais


O terceiro dia é a vez de encarar a última parte da travessia pela área da Serra do Cipó, nesse momento já dentro do Parque Natural Municipal do Tabuleiro. Depois de dormir cansado das explorações do dia anterior, acordei já com o sol batendo na barraca, ao abrir a lona me deparei com uma paisagem impressionante.

Acordei com os raios do sol na minha barraca...


... e ao abrir, pude ver uma das imagens mais lindas da travessia


As nuvens baixas formavam um mar entre as montanhas


TRILHA ATÉ A ADMINISTRAÇÃO DO PARQUE

Depois do espetáculo, me preparei para encarar mais uma caminhada de 3 horas até chegar na portaria do parque. Arrumei minhas coisas e fiz uma gambiarra amarrando a sola da minha bota que descolou no dia anterior. Depois disso me despedi da Dona Maria, a dona do terreno que acampei, e parti para o meu destino debaixo de um sol de rachar num dia bem quente e seco.

Gambiarra para amarrar a sola da bota que estava descolando


Descida em uma trilha em meio às pedras brancas


Verso imortal de Fernando Pessoa na trilha lembra que cada esforço vale a pena


A trilha que segue até a portaria do Parque é de declive em quase sua totalidade. O difícil é caminhar com mochila na descida que é cheia de pedrinhas e se não tiver cuidado o tombo é certo. Em alguns trechos as pedras de cristais aparecem no caminho e vale a pena parar para apreciar.

Cristais de quartzo encontrados na trilha


As montanhas à esquerda da trilha e seus cânions formam a vista mais bonita deste trecho


A erosão forma desenhos curiosos. Seriam mesmo naturais ou feitos à mão no passado?


Em certo ponto a trilha bifurca e quase não dá para ver a placa indicando as direções. As trilhas normalmente quando bifurcam seguem pela esquerda. O importante é ficar atento para não pegar uma trilha secundária, estas que não são tão marcadas quanto as principais. 

Placas como essa indicam a direção de Tabuleiro. Procure por elas


Neste ponto a trilha se bifurca e desce pela esquerda. O caminho certo é o que vai em direção as 3 árvores juntas (fundo)


Depois de passar pelas árvores a trilha desce pelas pedrinhas vermelhas em direção da Tabuleiro


Em certo ponto a trilha passa pelos abismos do cânion formado. O cuidado neste ponto é não se aproximar muito da beira. Neste trecho perigoso o Parque colocou faixa de interdição. Ao passar pelos cânions a mata fecha e o calor piora. Em certo ponto é possível avistar a Cachoeira do Tabuleiro ao fundo. Ao se aproximar da portaria do Parque, o vilarejo de Tabuleiro também é visto de longe. 

As formações dos morros e os cânions marcam a paisagem 


De longe já é possível avistar a grande atração do Parque: a cachoeira do Tabuleiro


TRILHA PARA O POÇO DA CACHOEIRA

Continuei descendo a trilha em direção ao vilarejo conforme eu havia avistado. Percebi então pelo GPS que eu estava me afastando da direção da portaria do Parque. O GPS apontava na direção de uns postes de luz atrás de um morrinho. Fiquei procurando a trilha até lá e vi uma pessoa vindo daquela direção. Eu gritei perguntando como chegava lá e ele me indicou a direção da trilha. Ao cruzar com aquele homem vi que era um guia e ele se surpreendeu ao saber que fiz a travessia sozinho.

Portaria do Parque Natural Municipal do Tabuleiro


Ao lado da guarita de entrada do Parque fica a sede administrativa, tudo bem novo. Era uma segunda-feira e não havia ninguém ali. Ao me aproximar, o voluntário do Parque veio da sede para me receber. É possível deixar a mochila na sede e fazer a trilha mais leve. Também existe banheiro com chuveiro e bebedouro com água gelada para a salvação de quem terminou a travessia num dia quente.

A partir da guarita do parque é possível visitar o poço da Cachoeira do Tabuleiro


Para acessar o poço da Cachoeira do Tabuleiro é cobrada uma entrada de R$ 10. Ainda é necessário preencher um termo de compromisso de cuidados ambientais e se comprometer de retornar dentro do horário previsto pela administração. A trilha possui cerca de 2 Km e o trajeto demora entre 1h a 1 h 30 min de caminhada, passando por um caminho de concreto erodido, com pedrinhas que deslizam e uma descida íngreme pela encosta. Mas nada é tão ruim que não possa piorar. Ao chegar no leito do rio, a imensa quantidade de pedras grandes tornam a trilha uma corrida de obstáculos até chegar no poço. Preste a atenção no ponto de subida para não se perder no retorno. 

Trilha de 2 Km (1h30min) por trilhas, descidas íngremes e pedras


A Cachoeira do Tabuleiro também é conhecida como "cachoeira do coração", devido ao formato do paredão rochoso. Por duas vezes consecutivas recebeu o título de "a cachoeira mais bonita do Brasil" pelo Guia Quatro Rodas e o título de "uma das 7 Maravilhas da Estrada Real, eleita em 2012 com mais de 40 mil votos no concurso realizado pelo Instituto Estrada Real.

A Tabuleiro também tem o apelido de Cachoeira do Coração por causa do formato



O caminho pelo rio é cheio de pedras grandes. É preciso subir e pular essas pedras por um longo trecho


O funcionamento do Parque é de 7h às 16h e são permitidos apenas 200 visitantes por dia. Em dias de previsão de chuva o acesso ao poço da cachoeira é fechado devido ao perigo das trombas d´água causadas pelas águas que descem das montanhas aumentando o volume do rio, tudo muito rápido, podendo ser fatal para qualquer visitante.

A água do rio é transparente e corre entre as pedras 


As fendas nas águas aparecem no caminho pelas pedras


Chegar no poço de águas geladas foi um troféu após encarar a cansativa trilha, sem falar da travessia. Depois que permaneci 1 hora neste lugar isolado sem ninguém por perto, somente a natureza, consegui recarregar as energias com um banho gelado antes de retornar pelo caminho pedregoso e cumprir o horário limite do Parque. Tentei voltar andando pela mata para fugir das pedras e acabei botando a mão num tronco em cima de uma vespa! Lógico que tomei uma ferroada, mas foi uma dor momentânea. No final tive que enfrentar a subida íngreme pela encosta para retornar até a administração do Parque.

São 273 metros de queda que formam a cachoeira mais alta de MG e a terceira do Brasil


O poço chega a 20 metros de profundidade


FIM DA AVENTURA

Com todos as missões concluídas (travessia e cachoeira) o fim do caminho é no Vilarejo de Tabuleiro. Da entrada do Parque tá lá são 4 Km pela estrada de terra, sempre descendo. Parece que a descida é rápida, mas na parte baixa a estrada faz uma volta. No vilarejo tudo é bem simples e distante da modernidade. Um ponto bom para conseguir informações é o Bar da Ceci (não tem letreiro, é só perguntar para qualquer morador). Para quem tem mais tempo pode ficar hospedado no vilarejo que parece que parou no tempo. Outras atrações próximas são: a Cachoeira Congonhas (4 Km), o Poço Pari e o Cânion Rio Preto, todos indicados por placas na saída da cidade. 

Uma estrada de terra desce da entrada do Parque até o vilarejo de Tabuleiro


Não existe transporte público para sair daquele vilarejo. Uma opção é pegar o ônibus escolar que sai por volta das 11h do lado da igrejinha para Conceição do Mato Dentro, a cidadezinha que fica a 19 Km e é possível pegar um ônibus para Belo Horizonte. Mais informações no post Como Planejar a Travessia? Enfim, consegui uma carona e retornei para casa conforme o previsto com mais uma missão bem cumprida, levando as lembranças de aventuras, belas paisagens e mordidas de carrapatos do campo.


MEU ROTEIRO 

Roteiro Completo: TRAVESSIA LAPINHA x TABULEIRO

Comentários

  1. Gratidão por divulgar as cachoeiras gigantes do Brasil, Minas Gerais e a cachoeira do coração Tabuleiro.
    Sou Samuel guia e proprietário da Pousada da Gameleira.
    Será um grande prazer receber e guiar voce pela cachoeira do Tabuleiro, sitio arqueológico e outras 70 cachoeiras na região, maravilhas do nosso quintal, compartilhando energias e vivencias espirituais, reforçando o encontro da vida na natureza e nossa arvore gameleira com 458 anos.
    Paz luz felicidades.
    Inté namaste!
    Samuel ace
    reserva@pousadadagameleira.com.br
    31-99263-2968 whatsapp

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.