Travessia Lapinha x Tabuleiro (dia 2): Cachoeira do Tabuleiro por cima

Travessia da Serra do Cipó até chegar no alto da maior cachoeira de MG


Acordei umas 6h00 depois de uma confortável noite de sono na minha barraca. Depois de tomar um café da manhã com os sanduíches de pão com ovo e queijo que eu levei e escovar os dentes no rio, segui viagem para mais uma etapa da travessia cujo próximo objetivo seria chegar na casa da Dona Maria, meu próximo suposto local de acampamento.

O dia amanheceu nebuloso na serra


Descida das águas das nascentes da montanha


CURRAL E CASA DA DONA ANA BENTA

Comecei a caminhada perto das 9h00 e segui pelas trilhas marcadas nos pastos. Foi então que pela primeira vez encontrei seres humanos na trilha, uma dupla que, pelo estilo, também faziam a trilha mas no caminho inverso. Durante a caminhada uma casa se destaca na parte alta do terreno, é o Curral. Este é um ponto de referência e também é usado por alguns viajantes para montar acampamento.

Avistei uma dupla de homens atravessando a trilha no sentido inverso ao meu


De longe já é possível ver o Curral, tendo uma trilha específica que leva até lá


A trilha bifurca em direção ao Curral, mas como não era meu objetivo parar por lá, continuei seguindo à direita, na direção da casa da Dona Ana Benta. A primeira placa que aparece na trilha indica que a casa fica a 1 Km de distância. Basta seguir a estrada de pedra branca e quando começa um trecho de terra vermelha há uma bifurcação para a moradia de Ana Benta. Continuei seguindo meu destino, mas para quem deseja acampar em lugar com apoio (banheiro, comida, cama, etc) esta é uma boa opção. Para informações atualizadas sobre este ponto de apoio e seus custos, o contato é Lucas (31) 9120-0991 e 9525-3252.

Entrada para o ponto de apoio Ana Benta


A trilha continua cheia de belas paisagens


E o Curral vai ficando para trás


Ao cruzar o topo das elevações o terreno fica mais rochoso. Logo acima da entrada da casa de apoio existe uma porteira, é só passar por ela e descer por um corredor entre pedras.

A trilha desce depois deste corredor de pedras


A vegetação muda e fica exótica nesta altura


Paisagem de pedras pelo caminho


Neste momento a trilha ficou bem interessante com uma nuvem baixa passando por ali. Era possível ver a nuvem se movimentando na minha direção. Dava uma sensação de isolamento total pois não se ouvia nem via nenhum sinal de civilização. Na parte alta da trilha se chega numa encruzilhada. Neste ponto existe uma placa que aponta para Tabuleiro.

A próxima etapa é seguir uma longa trilha que sobe e desce através dos pastos e sob neblina


Vegetação típica desta área


ENTRADA NO PARQUE DO TABULEIRO

Enfim, a chegada na fronteira para o Parque Natural Municipal do Tabuleiro. As terras anteriores eram particulares, mas com livre acesso também. A partir da porteira é restrita a passagem com animais particulares e motos e também é proibido acampar fora de locais de apoio. A trilha segue por alguns metros até um córrego de água parada, mas bem bonito. Não é recomendável beber. Depois de atravessá-lo, a trilha correta segue pelo lado direito na margem e passa por cima das pedras. Mais a frente existe uma placa com um pensamento de Charles Chaplin para fazer o "peregrino" refletir.

A trilha continua a partir desta porteira. É só abrir e passar


Depois da porteira há uma curta trilha que termina num córrego


A água não é potável, mas a formação rochosa chama a atenção


Uma placa com uma referência de Charles Chaplin colocada no caminho da trilha


Perto da placa a trilha se bifurca, mas os dois caminhos chegam no mesmo lugar. Acabei seguindo pela direita e dei uma volta um pouco maior e acabei chegando no meio de um pasto com bois e vacas e a trilha passava no meio deles. Um deles (com chifres) ficou me encarando um tempo, passei sem movimentos bruscos e já pensado para onde eu correria se fosse atacado (rs). Depois disso, passei perto de umas casas e me deparei com uma porteira fechada com corrente. Passei por baixo do arame farpado (e por outros bois mau encarados) até chegar na cachoeira.

Acabei pegando a trilha que levou até o meio do pasto do gado "mau encarado"


Em meio a pastagem e pedras, a vegetação é variada


De longe é possível avistar essa cachoeira que serve de passagem para a continuação da trilha. Existe outra porteira fechada (na verdade eu nem sei se era para entrar nesse terreno!) mas dá para passar pelas pedras da queda que é bem fraca. Coletei água neste local, mas usei pastilhas purificadoras por não saber de onde esse rio vinha.

A Cachoeira de cor alaranjada fica no caminho


CASA DA DONA MARIA

A primeira etapa do dia, enfim, foi concluída com a chegada na casa da Dona Maria por volta de 13h00. Este é um ponto de apoio autorizado pelo parque para acampar. Quando eu cheguei, havia uma dupla de rapazes que estavam partindo dali, eis que chega a Dona Maria, uma velhinha aparentando 90 anos, trazendo uma sacola com frutas colhidas na hora e ofereceu a eles. Um deles perguntou o valor e ela disse que não cobraria nada. Foi então que eu me apresentei e perguntei se podia acampar lá. Ela me indicou o lugar para isso nos fundos do seu terreno. Eu perguntei quanto custava e a resposta, para minha surpresa, foi a mesma que ela deu para os rapazes quanto às frutas: - Não vou cobrar nada não.

A humilde casa de Dona Maria


Montei minha barraca bem no fundo do terreno, perto de uma nascente e com um visual incrível


TRILHA ATÉ O ALTO DA CACHOEIRA TABULEIRO

A segunda etapa do dia seria chegar no topo da cachoeira do Tabuleiro. São 3 horas de caminhada até a parte alta da cachoeira de 273m, a terceira mais alta do Brasil e a maior que se tem acesso turístico. Ao sair da área de acampamento da Dona Maria deve se caminhar para a esquerda descendo para a portaria do parque e entrar na primeira trilha à direita. Depois da primeira porteira, o caminho segue a bifurcação da esquerda, onde havia uma placa feita à mão indicando a cachoeira. Se pegar o caminho errado é só não cruzar a segunda porteira.

Longa trilha pelo pasto e sem sombra


O dia estava quente e com sol forte. Como a trilha segue através de campos abertos, quase sem árvores, é recomendável levar o protetor solar. Para piorar, a minha bota guerreira de várias jornadas soltou parte do solado. Depois de horas de caminhada e por vezes perdendo a trilha e sendo obrigado a andar pelo pasto, enfim cheguei no rio Tabuleiro.

Para "melhorar" a aventura, o solado da minha bota descolou


A trilha chega no rio em um poço natural muito bonito


Atravessei o rio e continuei pela trilha subindo a as pedras até chegar num excelente mirante, mas tinha outro problema: ao olhar para o GPS, percebi que eu estava me afastando do caminho correto. Voltei ao rio rápido pois a noite já estava chegando.

O rio corre entre cânions de pedras


Um lugar pouco visto, do outro lado do rio Tabuleiro em cima


A MISSÃO TEM QUE SER CUMPRIDA

Desci de volta para perto da margem do rio. Tentei achar uma trilha que seguia o rio pela margem, continuei até chegar nas pedras altas do cânion. Chegou num ponto que eu estava na beirada do paredão, quase 20 metros de altura, e ainda forcei a barra tentando andar pelo meio do mato. Até que a coisa ficou perigosa e eu pensei em desistir. Comecei a retornar. Foi então que, inconformado, fiquei observando o rio e percebi que dava para chegar nas pedras da margem. Me enfiei pelo mato até um ponto que eu conseguiria descer.

Como o rio não estava cheio, observei que era possível caminhar pelas pedras


O rio Tabuleiro corre entre pedras que formam cachoeiras antes da grande queda


Depois de andar uns 200 metros pelas pedras se chega na beira da queda das água, localizada a 273 metros de altura, no ponto mais alto da cachoeira do Tabuleiro. Consegui ver os últimos raios de sol e observar a paisagem de toda a região. Apesar da beleza, a ausência de trilha marcadas demonstra que este é um local que poucos conseguem chegar. Mais tarde descobri que o Parque do Tabuleiro avisa que o acesso até ali deve ser feito somente com guia portando GPS.

Vista de beleza única de um ponto restrito no Parque do Tabuleiro


O impressionante topo da cachoeira do Tabuleiro e a continuação do rio lá em baixo


A força das águas numa queda de 273 metros


TRILHA NOTURNA PARA O ACAMPAMENTO

A missão do dia estava cumprida mas ainda existiria mais aventura pela frente. O sol se pôs e eu comecei a retornar pela trilha de volta para o acampamento. Eu já estava bem cansado, principalmente depois do desgaste para conseguir chegar na beira da queda d´água. Sempre checando trajeto indicado no GPS, me perdi um pouco ao desliga-lo por um tempo para economizar bateria. Depois de cruzar o pasto por diversas vezes para reencontrar o caminho, enfim cheguei na minha barraca exausto depois de 3 horas de retorno. Ainda trouxe uns carrapatos grudados na minha canela, mas isso eu só perceberia no dia seguinte, em mais um dia de aventura.

Retorno pela trilha sozinho num lugar desabitado à noite 




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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.