Grécia: Em busca do Oráculo de Delfos

O mais importante centro religioso e místico da Grécia antiga


Delfos era uma antiga localidade mística reverenciada por todo o mundo grego, conhecida principalmente pela existência do Oráculo, uma sacerdotisa que supunha-se fazer previsões sobre o futuro. As ruínas ficam em um planalto semicircular conhecido como Phaedriades, junto ao Monte Parnaso, local que dá nome ao período da literatura chamado Parnasiano. Para explorar este local único na história do mundo eu teria que me lançar ao interior da Grécia.


COMO CHEGAR?

Após retornar de Kalambaka, onde visitei os mosteiros da região de Meteora, pernoitei um Atenas numa noite chuvosa e fria, no Hotel Acrópolis Museu Boutique, o único disponível e com o melhor custo benefício no Centro por 61,20 euros a diária dupla. Um hotelzinho excelente e com um café da manhã espetacular, localizado na Av. Syngrou. Fiquei ali pela proximidade com as locadoras de carro que ficam no início desta avenida e onde eu pegaria o carro reservado na Europcar pagando cerca de 150 euros por 5 dias de aluguel

A auto-estrada segue em direção a Corinto até desviar para Delfos


Eu sempre levo meu GPS velhinho modelo Garmin Nuvi para me guiar nas estradas pelo mundo e mais uma vez ele cumpriu sua missão. Saí de Atenas depois das 10h00 para percorrer 189 Km até Delfos. A viagem dura cerca de 2 horas e 10 min. Não peguei nenhum pedágio pelo caminho, e a parte mais lenta é ao se aproximar do Monte Parnaso, numa região montanhosa e que ainda caía neve, resquícios do inverno.

O Monte Parnaso de branco 


Ao chegar enfim em Delfos, a primeira coisa que se vê é o sítio arqueológico do famoso Oráculo. Ao tentar estacionar o carro próximo à entrada... pow! Uma batida! Para saber como foi esse perrengue leia o post Como me meti num acidente de carro em Delfos

Em certo trecho o tempo fechou e caiu até flocos de neve


Abaixo está o Google Maps com o itinerário entre Atenas e Delfos para quem percorre de carro. São poucas placas indicando Delfos no início e, para quem vai sem GPS, siga em direção a Corinto e fique atento nas placas para desviar para Delfos.



O SÍTIO ARQUEOLÓGICO

Depois do perrengue passado em frente ao sítio, achei que não conseguiria conhecer tudo naquele dia, mas descobri que o horário de funcionamento era de 8h às 20h, horário do verão (apesar de estar na primavera) em que escurece tarde. A entrada tem o valor individual de 6 euros e ainda tem a opção de se comprar o combo Sítio Arqueológico + Museu por 9 euros.

O sítio arqueológico possui uma vista fantástica da região montanhosa 


No caminho que segue até o Templo de Apolo estão as ruínas das capelas, chamadas de tesouros, já que guardavam as oferendas das Cidades-Estado gregas (Tebas, Atenas, etc), para comemorar vitórias dedicadas aos deuses, ou para agradecer benefícios obtidos pelas previsões. De todos, o mais importante era o Tesouro de Atenas, hoje o único restaurado, construído para comemorar a vitória na Batalha de Maratona.

Tesouro dos Boeotianos, um exemplo do estado em ruína da maioria


Antigamente, o procedimento ao chegar à Delfos era que o viajante se registrava e pagava uma taxa, aguardando o momento da sua consulta.  Logo, ele se purificava numa fonte de água e caminhava pelo caminho sagrado, ao longo das capelas, até chegar no Templo de Apolo.

A única capela restaurada: o Tesouro de Atenas


Fachada restaurada do Tesouro de Atenas


Cenário de ruínas deste antigo santuário sagrado


Entre as ruínas, a disposição das pedras que formam os muros são bem interessantes, irregulares, bem parecido com as técnicas incas. Mais abaixo eu comento mais sobre isso.

Seguindo pelo caminho sagrado me deparei com esse muro interessante


Paredes com blocos irregulares mas que encaixam perfeitamente


O TEMPLO DE APOLO

O templo foi muito procurado entre os séculos 8 e 2 a.C por pessoas que procuravam previsões sobre o futuro, conselhos e orientações. No interior estava o famoso Oráculo de Delfos, uma sacerdotisa  que fazia previsões auxiliada por vários sacerdotes.

Algumas colunas e a fundação foi o que restou do antigo templo do Oráculo


Diz a lenda que o local pertencia a Gaia, a divindade mitológica que representa o planeta Terra, e era habitado por sua filha, a serpente Píton. Apolo, deus do sol e da profecia, matou a terrível serpente, que caiu numa fenda do solo e, ao entrar em decomposição, começou a exalar vapores tóxicos. A tradição popular passou a afirmar que, quando uma mulher de boa conduta entre as camponesas inalava tais gases, incorporava o próprio deus Apolo e tinha a capacidade de profetizar.

Dá para perceber o desgaste pelo tempo das ruínas


A fundação do antigo templo ainda pode ser vista


Após estudos geológicos do local do templo, hoje se pode ter uma explicação científica da mitologia. Afirma-se que existem 2 falhas geológicas que atravessam Delfos. Em 1996, comprovou-se que o subsolo é formado por pedra calcária betuminosa, que pode emitir etileno, um gás capaz de produzir alucinações. Isso explicaria os "vapores exalados pelo corpo da serpente", que subiriam por fendas, pois as falhas geológicas se cruzam bem abaixo do Templo de Apolo. Uma dessas falhas está alinhada com fontes de água, a maioria não existe mais, sendo que uma das nascentes fica exatamente abaixo do templo. Quando a água quente vinha das profundezas do solo, passava pela camada de pedra calcária e provocava a liberação dos vapores de etileno.

Abaixo da base do templo haveriam falhas geológicas de onde saiam os vapores sagrados


Outra teoria é que as sacerdotisas comiam folhas de loureiro que em grande quantidade são alucinógenas


Os visitantes que vinham se consultar com o Oráculo sacrificavam uma ovelha ou uma cabra, para ter suas entranhas examinadas pelos sacerdotes à procura de de profecia. Depois disso, entravam a sós no templo. A sacerdotisa, ou pitonisa como era conhecida, descia até uma câmara subterrânea sob o templo para inalar os vapores "sagrados" que induziam seu dom profético.


Segundo a mitologia, até Hércules se consultou no Oráculo de Delfos


Pilar dos Prusians, outro marco de agradecimento às previsões


Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo. (inscrição na entrada do templo)


Com o domínio do Império Romano (2 a.C.), o local sofreu pilhagens. Mais tarde, com a popularização do Cristianismo no ocidente, o Templo de Apolo foi fechado por um decreto do imperador Teodósio, no final do século 4 d.C., permanecendo em abandono.


THOLOS

O Tholos de Delfos fica localizado a cerca de 800 metros abaixo da entrada do santuário, podendo ser visto lá de cima. É dedicado à Atenas Pronaia e tem um formato circular, sendo um dos mais clássicos da Grécia.

Atribui-se ao micênicos a construção de tumbas circulares pela primeira vez


O ESTÁDIO

Depois de conhecer o Templo de Apolo, segui subindo pelas escada até o final das trilhas do complexo. No final se chega no estádio grego próximo, até em Delfos as competições esportivas tinham significado religioso.

O grande estádio grego de Delfos


Mesmo em ruínas, as arquibancadas permanecem depois de séculos de existência


Espécie de nichos onde ficavam estátuas de deuses


Outra construção que pode ser admirada de cima é o Teatro


MISTÉRIO NAS RUÍNAS DE DELFOS

Delfos além de ser antiga, foi um lugar movimentado por diversas gerações, obtendo assim um acompanhamento aos costumes que surgiam. Dá para perceber isso na arquitetura que foi sendo modificada com o tempo. Algo comum de se ver nas ruínas mais antigas são as muralhas ciclópicas, tendo esse nome pois acreditavam que só quem poderia tê-las construído eram os monstros mitológicos de um olho. O interessante é que essas muralhas lembram o estilo de construção de outro misterioso local: Sacseyhuaman no Peru, perto de Cuzco, que aliás, era conhecida como o umbigo do mundo. Já Delfos era conhecida como Omphalos, o centro do universo, sendo a primeira grande coincidência entre os sítios arqueológicos.

Ruínas das muralhas ciclópicas de Delfos


As muralhas de Sacseyhuaman no Peru


Algumas peças também são encontradas pelo sítio e apesar de poucos olhos prestarem a atenção, são itens realmente curiosos. Veja esses detalhes da arquitetura de Delfos:

Pedra semelhante ao projétil de um cartucho de arma de fogo


Valetas para escoamento de água 


Blocos que parecem peças de Lego


Outra característica semelhante à construções antigas são as técnicas de junção de blocos com uma liga de metal. O uso dessa técnica no Egito antigo até tem explicação, pela proximidade de culturas, mas o que explica essa semelhança com Tiahuanaco na Bolívia?

Entalhes nos blocos de pedra para junção em Delfos


Base de parede em Delfos com blocos unidos por uma peça de junção 


Templo de Isis, na ilha de Philae, Egito (agosto 2014)


Tiahuanaco na Bolívia (fevereiro 2013)


E por falar na Bolívia, existem outras pedras que lembram os blocos enigmáticos encontrados em Tiahuanaco e Puma Punko, como se fossem trilhos ou peças de encaixe de engrenagem. Talvez poucos percebam estes detalhes, até mesmo os arqueólogos, mas esta "coincidência" não é de deixar uma pulga atrás da orelha?

Pedra que mais parece uma peça de engrenagem


Perfurações retangulares perfeitas para encaixe com outras peças


Abaixo mais algumas fotos tiradas no complexo de Tiahuanaco e Puma Punko na minha passagem em 2013. Se eu não falasse nada, não passaria despercebido entre as fotos de Delfos?

Ruínas de um grande bloco com figuras geométricas próxima a Tiahuanaco 


Na Bolívia, este bloco com furos bem parecidos com os blocos de Delfos


MAPA DE DELFOS


Sítio arqueológico de Delfos (clique para ampliar)


E depois de explorar todo o sítio, ainda restava o museu de Delfos, localizado após a saída do santuário


MEU ROTEIRO

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Roteiro completo: MISSÃO GRÉCIA

Próximo: MUSEU ARQUEOLÓGICO DE DELFOS


Comentários

  1. Parabéns pelo excelente texto e por compartilhar esta aventura! No mês de maio ainda faz frio e pode gear em Delos? Obrigado

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  2. Esqueci de pôr meu nome: André

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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.