Egito: Philae, a ilha do Templo de Isis

Uma ilha com templo dedicado a uma deusa


Philae é uma ilha que não existe mais. Lá se encontrava um complexo de templos edificados ao longo dos tempos e cujo principal era o Templo de Ísis, a deusa da fertilidade, da maternidade e da magia egípcia. Com a construção da Barragem de Aswan, toda essa área alagou, o que levou o governo egípcio e a UNESCO a colocarem em prática um projeto para transportar as antigas ruínas para outro local: A vizinha Ilha Agilika. Com o faraônico projeto concluído, o complexo de Philae renasceu para os turistas, arqueólogos e aventureiros.


Para chegar lá, negociei um táxi na porta do hotel. Um esquema bem comum para se conhecer a ilha é o taxista levar até o ponto da margem do Nilo em que se encontra a bilheteria, e esperar no local enquanto o cliente atravessa e volta. O tempo aproximado é de 1 hora (tem deixar claro o tempo que se deseja para a espera).

O indivíduo pediu 150 EGP para levar e esperar no local. Depois baixou para 120 EGP. Como eu queria conhecer outros pontos na mesma corrida, como a Barragem Alta de Aswan e o Museu Núbio, acabei pagando 150 EGP por tudo junto. Mais tarde, o barqueiro que fez a travessia me falou que para o táxi trazer e esperar custa de 60 a 80 EGP.

O porto para Philae fica a 8 Km do centro de Aswan


Chegando na área do porto, existe uma bilheteria cercada por lojas de suvenires. Foi meu primeiro contato com os vendedores chatos do Egito. Como já era final de tarde e não haviam outros turistas, fui cercado por vendedores de livros e roupas.

Comprei o bilhete e passei pelo controle, já na beira do rio. Chegando nos barcos, um barqueiro se apresentou cobrando 150 EGP (!) para a travessia. Iniciou-se mais uma chata negociação. 

O barqueiro não queria baixar o valor e o problema dessa vez é que não tinha para onde correr, não havia outras opções. Eu já havia passado pela bilheteria e não teria como recuar. Além disso, o taxista já contava a espera. Essa é uma das grandes pegadinhas para turistas, do tipo "dá ou desce". Eu sabia que a travessia custava em torno de 40 EGP, mas como eu não tinha escolha, tive que chorar e ele baixou no máximo para 100 EGP. 

Foi então que eu usei a velha técnica de dizer que era brasileiro e que éramos também pobres, diferente dos americanos, japoneses e europeus. O barqueiro deu uma resposta que me surpreendeu, ele disse que havia acabado a Copa do Mundo e que o Brasil estava cheio de dólares. Eu respondi que quem estava cheio de dólares eram os jogadores, e não o povo... Então ele baixou para 70 EGP!

Os barqueiros cobram o preço pelo barco e não por pessoa. Ao fundo o Templo de Isis


No final da tarde, um dos últimos grupos de visitantes retornando da ilha


TEMPLO DE ISIS

Depois de transferir as ruínas de Philae para Agilika, cerca de 300 metros entre as ilhas, o processo de reconstrução demorou 10 anos, tendo terminado em 1980. Hoje em dia, com 15 monumentos transferidos da antiga ilha, o nome da Ilha de Philae acabou também sendo transferido para a Ilha Agilika.

O Templo de Isis foi todo transportado para a Ilha Agilika


O Templo de Isis começou a ser construído no reinado de Ptolemeu II (284-246 a.C). Era consagrado à Deusa Isis que era uma das principais divindades egípcias antigas, esposa de Osíris e a mãe de Hórus. Era considerada também uma deusa protetora dos sarcófagos. 

O templo é constituído de um Pilono (02 torres laterais e um portal de entrada no centro), um pátio frontal, segundo pilono, uma Sala Hipóstila (colunas), três vestíbulos e, no fundo do templo, está um santuário de quartos laterais.

Ao fundo, o pilono de entrada ao Templo de isis


Desenhos na entrada do rei Ptolemeu II e sua esposa ora rezando diante das divindades, ora fazendo oferendas 


A fachada do templo é constituída de pedra arenosa


Ao passar pelo portal de entrada, do lado esquerdo do pátio aberto, está o Mammisi, local que simboliza a casa do nascimento divino de Hórus. As paredes estão decoradas com cenas do nascimento do filho de Isis, sendo presenciado por várias divindades egípcias.

Explorando este local, percebi que algumas colunas eram decoradas com colunas de Djed. Academicamente, esse símbolo representa a estabilidade e é associado a Osíris, marido de Isis e pai de Hórus. 

Outro pequeno detalhe encontrei no chão: um círculo em baixo relevo ligado a outros menores. Pode até ter outra explicação, mas parece muito com petróglifos e desenhos rupestres que eu já vi pelo interior do Brasil e que representam algum alinhamento astronômico.

Um dos pilares possui decoração com a simbólicas Colunas de Djed  


Seria alguma representação astronômica ou apenas um ponto de oferendas?


Continuei seguindo pelo lado esquerdo do templo, cheguei à beira do rio. Nesse local está o antigo Nilômetro que era usado pelos antigos sacerdotes para as previsões de inundações. Existem escadas que desciam até o nível do Rio Nilo.

De lá se pode ter uma boa vista das águas, mas não foi isso que me chamou a atenção. Era a primeira vez no Egito que eu me deparava com algo que eu só tinha visto na América do Sul e que se repetiria em outros templos ao longo do Nilo. A tecnologia de junção das pedras que consistia em unir os blocos com encaixes para lâminas de metal. Com o tempo esse metal foi extraviado, mas as marcas talhadas nos blocos ainda existem, exatamente igual aos blocos dos templos Incas e Tiahuanacotas. Como pode haver uma semelhança tão grande? Algo não está bem contado na história do mundo.

Ao passar em frente ao Mammisi e virando à esquerda se entra no pátio lateral do templo


Dois blocos com depressão para o encaixe da liga de metal de junção


Junção dupla em alguns blocos de pedra


Foto tirada em 2013 nas ruínas de Tiahuanaco, na Bolívia, mostra as junções num estilo semelhante


Depois retornei e entrei de fato no santuário do Templo de Isis, sendo a etapa anterior a Sala Hypóstila, com 10 colunas em estilo egípcio, cujo topo das colunas representam flores, além de 3 vestíbulos.

O interessante dessa sala são representações da cruz, o símbolo do Cristianismo. Isso começou a partir do momento em que houve o reconhecimento do Cristianismo, no século 4.  Já após o período do Imperador Justinano (527-565 d.C), o Templo de Isis foi convertido a uma basílica cristã (577 d.C), por incrível que pareça!

Colunas em estilo Palmiforme (flores de palmeiras)


Altar de granito feito pelos primeiros cristãos para as missas realizadas


Depois dos vestíbulos está o santuário do templo que é decorado com ilustrações bem conservadas de reis e divindades, principalmente a deusa Ísis. No final da parede direita do santuário existe uma cena de Isís sentada no seu trono e amamentando o bebe Hórus.

Santuário de Isis com ilustrações de reis e deuses


Pequeno altar no centro do santuário


Ao sair do santuário e voltando para o pátio aberto do templo, continuei seguindo pela esquerda, dessa vez o lado oposto do Mammisi. Nessa construção com 6 entradas de capelas se destaca uma porta maior de saída para o pátio externo ao templo. No corredor de saída existe um grande pórtico com o símbolo do Sol Alado talhado na fachada, algo comum de se encontrar na entrada dos grandes templos no Egito.

Entre colunas e capelas está a saída para a outra parte da ilha


No meio de 6 pequenas portas de capelas está a saída para o pátio externo


Toda a passagem é bem decorada com cenas rituais 


O grande Sol Alado protege a porta do templo, neste caso, a sua saída 


QUIOSQUE DE TRAJANO

Ao sair do templo de Isis, pela saída lateral, já se pode ver o Quiosque de Trajano na beira do rio. Feito pelo Imperador Romano Trajano, possui 14 colunas com cenas destruídas ou deixadas inacabadas. Mesmo assim é um local bem bonito para fotos.

Foi construído entre 97 e 117 a.C.


Local aberto que recebe os raios do forte sol egípcio


Um dos lugares mais bonitos para se observar o arquipélago dessa região


Outras ruínas distribuídas pela ilha, porém menos relevantes, são: a Capela de Osíris, o Templo de Hórus, o Templo de Hathor, o Templo de Augusto, O Portal de Tiberius e o Portal de Diocleciano.


RETORNO

Voltei ao pier em que eu havia desembarcado em Philae e não achei o barqueiro. Comecei a pensar que iria passar meu primeiro grande perrengue naquele dia, mas ao observar melhor, ele estava dormindo na ilha oposta, aproveitando as sombras das pedras para aliviar o grande calor. Por falar nisso, considere levar no mínimo 1,5 litros de água para esses lugares isolados, não levei tanto e minha garrafa estava vazia, dependendo chegar no comércio próximo à bilheteria para comprar mais.

Depois de alguns sinais a acenos, lá vem o meu táxi aquático


De volta à margem próxima à bilheteria, já vazia no final da tarde


Ao chegar no pequeno centro comercial encontrei a única loja que vende água já fechada. O que poderia ser pior? Respondo: As outras lojas estarem abertas. 

Além de sede tive que aguentar o ataque dos vendedores. Subi rapidamente uma ladeira em direção ao estacionamento em que esperava meu taxista. Um dos vendedores tentava me empurrar uma camisa de algodão egípcio por 100 EGP. Pediu para eu segurar para sentir a qualidade do tecido. Quando eu fiz, ele largou na minha mão e não quis mais receber. Existe uma prática comum como essa em que o vendedor larga a mercadoria na mão e depois denuncia para a polícia que o comprador levou sem pagar, obrigando assim a pessoa a pagar o valor estipulado.

Larguei a camisa no chão e continuei andando. O vendedor continuou atrás e ao ir se aproximando do táxi foi baixando o preço para 90, 80, 70, 60, 50 EGP. Ao abrir a porta do táxi eu percebi o desespero para vender e ofereci 30 EGP. Ele aceitou e os dois foram embora satisfeitos após a turbulenta negociação.

Depois de Philae, meu próximo destino seria a Represa de Aswan que eu já relatei aqui e depois o Museu Núbio.


MAPAS ÚTEIS






GASTOS (agosto 2014)

Táxi para Philae-Represa Alta-Museu Núbio - 150 EGP
Entrada de Philae - 60 EGP
Barco para Philae - 70 EGP


MEU ROTEIRO

Anterior: ASWAN

Roteiro completo: MISSÃO EGITO

Próximo: MUSEU NÚBIO


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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.