Egito: Cairo central e Museu Egípcio

O choque entre o caótico e o faraônico Egito


Depois de chegar de madrugada no aeroporto do Cairo e dormir nas cadeiras da área de esteira de bagagens, tentei pegar um ônibus que levasse até o centro da cidade. Passei pelo "mar" de taxistas que insistiam em negociar uma corrida e, depois de caminhar pelo estacionamento, atravessei a rua e esperei passar um ônibus. Depois de mais de 40 min esperando, resolvi pagar um táxi mesmo. 

O centro do Cairo foi um dos principais palcos da chamada "Primavera Árabe" no Egito. Inspirados no "sucesso" dos protestos na Tunísia, os egípcios foram às ruas até a saída do presidente Hosni Mubarak que estava no poder havia 30 anos. Ele renunciou 18 dias depois do início das manifestações populares concentradas na Praça Tahrir. Perto dessa praça, está o Museu Egípico do Cairo, um dos maiores museus arqueológicos do mundo e que concentra o maior acervo de relíquias do Egito Antigo. O que ninguém imaginava é que a violência dos protestos chegaria ao interior do museu. 


O MUSEU DO CAIRO EM 2011

Em 29 de janeiro de 2011, durante os protestos ocorridos contra o governo de Hosni Mubarak, um grupo de 9 homens invadiu o Museu Egípcio do Cairo, destruindo várias peças históricas, incluindo duas múmias e alguns itens do acervo de Tutankhamon. O conteúdo deste museu sempre foi considerado um tesouro nacional, por isso, a partir desta ocorrência, o Exército Egípcio reforçou a segurança dos principais pontos de interesse arqueológico no país. Abaixo, algumas fotos que foram publicadas na imprensa na época:

A Primavera Árabe trouxe o caos ao Museu Egípcio


Nove homens entram pelo teto, destroem e saqueiam alguns itens milenares


Múmias destruídas durante a invasão


Invasor do museu é preso pela polícia insana do Cairo




O MUSEU DO CAIRO EM 2014

Ao chegar na frente do museu, qualquer um se assusta com o cenário que encontra: barreiras de arame farpado, soldados armados e vários blindados. Mesmo com a situação mais controlada no país, a importância do Museu Egípcio em meio ao caldeirão da região central do Cairo exige que um grande aparato militar esteja presente para a proteção das relíquias e dos turistas. É lógico que isso também tem assustado muita gente, inclusive com notas de países europeus recomendando seus cidadãos a evitarem o turismo no Egito pela situação instável.

A rua em frente ao museu estava toda bloqueada e cercada de blindados


Depois de passar na primeira triagem, localizada na rua em frente ao museu, a entrada no pátio do mesmo é feita mediante passagem no raio-x ao lado está o guarda-volumes. Não se pode entrar com máquina fotográfica, boatos dizem até que os guardas quebram a máquina se pegar alguém tirando fotos no interior do museu, logo, deve-se deixar a máquina dentro da bagagem que ficar no guarda volumes. Se for uma máquina cara e que chame a atenção, recomendo guardá-la antes, para que ninguém perceba que lá tem algo de valor. 

O guarda-volumes é uma salinha bem precária, sem muita segurança. Não existe preço a ser pago para deixar a bagagem lá, mas o funcionário vai te pedir uma gorjeta (Baksheesh em árabe ou tip em inglês). Dei 5 EGP (menos de 2 reais) para deixar meu mochilão e o rapaz não gostou muito. Passei o dia achando que ele iria zoar minha mochila, mas não o fez. No final ele ganhou mais, mas o porquê eu contarei mais tarde.

O jardim externo ao museu pode ser fotografado sem problemas. Nele estão algumas peças arqueológicas como estátuas de faraós e deuses, além de parte de um obelisco. O Museu Egípcio, originalmente aberto desde 1863, se mudou para esse palácio projetado pelo arquiteto francês Marcel Dourgnon em 1900.

Do lado esquerdo do jardim está a biblioteca do museu, uma das melhores do mundo arqueológico


Estátua de Osiris e Isis entre outros artefatos


Parte de um obelisco enfeita uma praça no jardim do Museu


No jardim do Museu Egípcio existe um lugar que se dá pouca atenção e a maioria dos visitantes desconhece a sua história. Próximo do portão de saída está o Mausoléu de Auguste Mariette, fundador do museu e criador do Serviço de Antiguidades do Egito, em 1858, sendo a primeira pessoa a incentivar a valorização dos artefatos arqueológicos e mantê-los no Egito. Este francês trabalhava no Departamento de Antiguidades Egípcias do Louvre, até então o mais importante museu egípcio do mundo, e viajou ao Egito para tentar obter manuscritos coptas antigos. Após falhar em sua missão pois os monges não aceitaram vendê-lo, partiu para escavar na região de Saqqara onde descobriu galerias subterrâneas de culto ao boi Ápis. 

Depois, continuou explorando diversas regiões como Gizé, Abydos, Tânis e Tebas. Após criar o Serviço de Antiguidades, conseguiu convencer o Vice-Rei do Egito a abrir um museu em Bulaq, perto do Cairo, em 1863, sendo mais tarde transferido para a atual localização. O escritor Eça de Queirós chegou a visitar o antigo museu.

Mausoléu de Auguste Mariette


Seus restos mortais permanecem em um sarcófago como o seu objeto de estudo preferido


O Museu egípcio do Cairo contém cerca de 136.000 artefatos arqueológicos distribuídos em 42 salas no térreo, 47 salas no piso superior e outros 40.000 objetos ainda encaixotados nos porões por falta de espaço. Para resolver esse problema, está sendo construído o Grande Museu Egípcio próximo a região das pirâmides de Gizé, com 970.974 m2.

O ticket é comprado na bilheteria após a entrada, na área do jardim, seguindo-se para a direita. Para se visitar o Salão das Múmias Reais, deve-se comprar outro ticket já dentro do museu.

Após entregar os tickets e atravessar a roleta, se passa por outro raio-x e finalmente se acessa o interior do museu. Por ser bastante grande e antigo, em dias quentes se passa muito calor lá dentro, é recomendável levar água. 

Porta de entrada do Museu Egípcio


Croqui do térreo do museu                                       Croqui do andar superior do museu


Como eu disse anteriormente, é proibido fotografar dentro do museu, logo, as fotos do interior apresentadas a seguir foram encontradas na internet.

Ao entrar no museu está o Átrio (13, 18, 23, 28, 33, 38 e 43), um salão principal amplo que se encontram vários modelos de sarcófagos e, ao fundo, uma colossal estátua do casal Amenhotep III e a Rainha Tiye, pais de Akhenaton. Outro destaque do Átrio é a estátua de 5 mil anos do Rei Djoser esculpida em pedra calcária.

Átrio, o salão principal do museu


Os olhos vazados são a principal característica desta obra representante de Djoser


Ainda no piso térreo, estão espalhados literalmente diversos sarcófagos, estátuas, estelas com escrituras, objetos e partes de grandes monumentos transportados até aqui ao longos dos anos. É de impressionar qualquer fã de egiptologia, mas tem um porém: tudo parece pouco cuidado, empoeirado e esquecido nas prateleiras. Talvez pela ausência de placas identificando as peças que, quando existem, na sua maioria estão bem desgastadas ou escritas em máquina de escrever. 

Quéfren com a cabeça protegida por Hórus simbolizando a legitimidade divina para governar


Esfinge da Rainha Hatshepsut


Estátua de Miquerinos com a Deusa Hathor


Horus e Seth abençoando Ramses III


Shabits eram estatuetas que representavam servos para a pós vida do morto


Sarcófagos e múmias no segundo andar


A SALA DO MISTERIOSO REI AKHENATON

No piso térreo, bem ao fundo do Átrio, fica a sala de número 3, dedicada a objetos encontrados na região de Amarna que foi a capital do Império Novo através da vontade do Rei Akhenaton, um dos mais polêmicos da história antiga.

Casado com a bela rainha Nefertiti, Akhenaton instituiu uma religião monoteísta no Egito Antigo, algo até então inédito, sendo o primeiro caso registrado de monoteísmo na história. Seu nome original era Amenhotep IV (Amon está satisfeito) mas mudou no quinto ano de seu reinado para Akhenaton (Espírito atuante de Áton). Essa mudança radical simbolizaria o repúdio ao Deus Amon assim como aos demais deuses egípcios. Ele decretou que o único deus a ser venerado seria Áton, representado pelo disco solar.

Seu reinado durou 17 anos e até hoje é um mistério, primeiramente por ter causado a fúria do clero da época, assim vários templos e inscrições referentes ao seu reinado foram destruídos. Por isso, não se sabe o motivo da mudança radical que ele criou na religião egípcia. Alguns dizem que seria uma forma de tirar o poder do clero que controlava a população com seus dogmas, outros dizem que o Rei teria influência de seres extraterrestres para isso, reforçado pelo fato de que Áton é um deus dos primórdios do Egito simbolizado através de um disco. Além disso, Akhenaton é representado com uma estranha deformação no crânio, sendo este alongado, e transmitindo essa característica aos seus filhos. Até mesmo suas estátuas o representam com uma estética bem particular, diferente dos demais faraós.

A estranha estética da estátua de Akhenaton


O Rei Akhenaton é o pai de Tutankhamon. Somente no reinado de seu filho é que a realeza e o clero fariam as pazes e a antiga religião politeísta voltaria a aparecer. Por isso usou o nome Tutankhamon (a imagem viva de Amon).

A Estela da Família Real representa Akhenaton, Nefertiti e 3 de suas filhas sob a proteção de Áton


SALÃO DAS MÚMIAS REAIS

Para o acesso às múmias reais é necessário comprar um ticket separadamente, vendido na entrada do salão. São duas salas (52 e 55), cada uma com entrada em uma extremidade do grande hall do andar superior. Lá dentro estão 22 corpos de reis famosos mumificados, entre eles Seti I, Tutmés II, Hatshepsut, todos sob temperatura controlada em suas redomas.

O mais poderoso faraó egípcio também está lá: Ramsés II. Junto com seu corpo mumificado, estão expostos materiais originais que se encontravam a venda na internet e que o governo egípcio conseguiu recuperar, como fios de cabelo da múmia. Esse material provavelmente foi obtido quando a múmia foi transferida para Paris para realizar um tratamento anti-fungo.

Múmia do grande faraó Ramsés II


Múmia da Rainha Nodjmet


Os restos mortais de Akhenaton também se encontram nesse salão (sala 52), porém até aqui esse faraó é renegado. Ele está do lado de fora da sala que contém a maioria das múmias. Teria sido encontrado na tumba KV 55 (KV significa King´s Valley, ou seja, Vale dos Reis) e confirmada sua identidade através de testes de DNA com a múmia de seu filho Tutankhamon.

Ossada de Akhenaton


Suposta múmia da mãe de Tutankhamon


O ESPAÇO DOS ANIMAIS MUMIFICADOS

Não somente os humanos, mas os animais também entravam na onda de mumificação. A sala 53 do piso superior reúne vários animais mumificados, como crocodilos, cães, gatos, pássaros, macacos, etc. A maioria dessas múmias eram colocadas na mesma tumba de seus donos, porém outras possuíam sua própria câmara mortuária. As diferentes múmias de animais do salão estão datadas entre 1.600 a.c. a 200 d.c.

Crocodilos mumificados remetem ao culto do deus crocodilo Sobek


Um macaco e um cão mumificados permanecem na mesma posição em que foram encontrados


O TESOURO DE TUTANKHAMON

Nas alas leste e norte do piso superior estão objetos encontrados intactos dentro da tumba de Tutankhamon. Dentre os itens estão camas, armas de caça, cadeiras, jogos de tabuleiros, etc. Numa vitrine também estão os 413 shabits (servos em miniatura) colocados no seu túmulo para servirem ao rei na sua pós vida.

O mais impressionante e a principal atração do museu é a sala com o tesouro de Tutankhamon (sala 3 do piso superior) contendo diversos amuletos, anéis, braceletes, pedras semi-preciosas, adagas e a famosa máscara mortuária de ouro maciço.

Além ter ter sido a única tumba de faraó encontrada intacta no Vale dos Reis, o Rei Tut, como também é conhecido, ficou famoso pela maldição que acometeu seus descobridores que morreram por causas misteriosas devido à suposta profecia de que isso aconteceria com quem "perturbasse o sono do faraó". Lenda ou não, coincidência ou não, a múmia de Tutankhamon é a única que não foi transportada ao Salão das Múmias Reais e permanece na sua tumba na região de Luxor. Mais detalhes sobre essa história estará no relato sobre minha exploração ao Vale dos Reis.

A fascinante máscara mortuária de Tutankhamon


Alguns itens do tesouro real encontrado na tumba 


Cerca de 1.700 objetos de Tutankhamon estão no Museu do Cairo


O PÁSSARO DE SAQQARA

Na sala 22 do piso superior do museu está um pequeno objeto de decoração que viria a se tornar outro mistério até hoje sem solução. O Pássaro de Saqqara (registro especial 6347) encontrado em uma tumba daquela região em 1898 é considerado de aerodinâmica idêntica ao avião moderno. A peça é feita de madeira de sicômoro, pesando 40 gramas e possuindo 14,2 cm de comprimento por 18,3 cm de envergadura das asas. Inicialmente se considera que ele é um enfeite representativo de falcão.

Somente em 1963, o egiptólogo Khalil Messiha levantou a hipótese de que o artefato não representava um falcão e sim um aeroplano. Mais tarde foram realizados testes com uma réplica do Pássaro de Saqqara em escala maior e, para a surpresa de todos, ele se comportou como um planador.

O pequeno Pássaro de Saqqara divide um espaço discreto com outros artefatos da sala 22


Até hoje se discute se o objeto de madeira representa um falcão ou um avião


PRAÇA TAHIR

Depois de visitar o Museu Egípcio, aproveitei que a mochila estava no guarda-volumes e segui caminhando até a Praça Tahir que fica a 350 metros, uns 5 min a pé. Esta praça, que em árabe significa "Praça da Libertação", é o principal centro de manifestações e violência durante as revoltas populares que o país tem passado. 

Além do Museu Egípcio, ao redor da praça estão a estação de metrô Sadat, o antigo campus da Universidade Americana do Cairo, alguns prédios governamentais e a sede do Partido Democrático Nacional, de Hosni Mubarak, que foi atacado por manifestantes em 2011.

Praça Tahir durante as manifestações (foto internet)


Estima-se que 2 milhões de pessoas se reuniram em protestos neste que é o centro do Cairo (foto internet)


Tahir é uma praça simples e não tem nada de bonita, na verdade, estava deserta como um campo de batalha pós combate. Ao lado fica uma grande rotatória que é caminho para vários pontos da cidade. Nas principais saídas da rotatória estão posicionados carros blindados.

A simples e tensa Praça Tahir que concentrou cerca de 2 milhões de pessoas na Primavera Árabe


O nome original era Praça de Ismail em homenagem a Ismail Paxá, vice-rei do Egito no século 19


Como Tahir é um lugar sensível, fiquei ligado para não entrar despercebido no meio de um atentado. Antes de chegar na praça, um senhor se aproximou de maneira simpática perguntando de onde eu era e aonde eu queria chegar. Acabei dando confiança e disse que eu estava indo à Praça Tahir. O indivíduo disse que me apontaria a direção e saiu andando. Depois de andar algumas dezenas de metros, percebi que ele estava me enrolando, porém, como eu havia acabado de chegar no Egito, não me senti a vontade para agir de forma grosseira e continuei seguindo o cidadão. Então, ele chegou em frente a uma loja e me convidou para entrar. Eu já me estressei com ele por ter me enrolado e falei que eu queria ir para a praça. Ele disse que só iria me dar seu cartão, então eu virei as costas e saí andando. Era a primeira ocorrência que eu passava com esses tipos de aproveitadores que fazem de tudo para vender aos turistas, mais tarde eu aprenderia a lidar com isso.

Na verdade, o senhor me afastou da praça que eu já me encontrava praticamente. Acabei chegando próximo do Rio Nilo. Era a primeira vez também que eu me deparava com o rio sagrado dos antigos egípcio. Do outro lado do rio, era possível observar a Torre do Cairo que é uma torre de televisão e possui um restaurante giratório, assim como em vários lugares do mundo.

Calçadão do Rio Nilo próximo ao centro do Cairo


A Torre do Cairo possui 180 metros de altura


PALÁCIO DE ABDEEN

Depois de caminhar de volta à Praça Tahir, continuei andando pela rua que segue direto a partir da ponte do Nilo, passando pela rotatória e seguindo pela rua El Tahir. Apesar de ser o centro da cidade e estar cercado de prédios do governo, tudo por ali é bem caótico. Nas calçadas é uma confusão de gente e nos prédios se pode observar vários fios cruzados por todos os lados, como "gatos" de energia!

Ao final da rua, se chega no El-Gomhoreya Square, a praça que está localizado a sede do antigo governo egípcio, o Palácio de Abdeen, que foi construído no século 19 e possui 500 quartos. No palácio funcionam alguns museus como o Museu de Armas, o Museu da Família Real e o Museu de Presentes Presidenciais. Para mais informações acesse o site aqui.

O palácio, pelo visto, não estava de portas abertas para seus turistas. A instabilidade no local criou outro ambiente, com praças desertas e arame farpado cercando a construção.

Como a maioria dos prédios no Cairo, existe uma infinidade de fios e cabos cruzados pela fachada


Na praça em frente o Palácio de Abdeen permanece um ambiente de conflito


O nome se refere ao antigo proprietário dessas terras, Abdeen Bey, um nobre turco otomano


Após o tour a pé nesse cenário de guerra, parei para reabastecer a barriga no KFC e ainda usar o banheiro. Percebi que a Praça Tahir não é um lugar turístico então existe pouca opção para comer naquela região. Eu era o único turista doido passeando por ali.

Em frente à rotatória da Praça Tahir está o KFC, salvação do meu almoço!


PERRENGUES NO EMBARQUE PARA ASWAN

Voltei caminhando para o Museu Egípciopara pegar minha mochila que ficou guardada no guarda-volumes. Era o fim da aventura do dia (só que não!). 

Ao pesquisar no site da internet do SCA (Supreme Council of Antiquities), me informei de que o Museu do Cairo funcionava diariamente de 9h00 às 19h00, exceto no Ramadan que fechava às 17h00, porém esse período já havia acontecido um mês antes. Caminhei tranquilo até o museu por volta das 17h00 e, surpresa, o museu havia fechado! Sem saber do novo horário, talvez devido aos conflitos no centro do Cairo, fiquei com minha mochila presa no interior do museu! Eu já tinha passagem de trem comprada para Aswan naquela noite e um atraso desses poderia alterar todo meu planejamento.

O portão de acesso ao museu estava fechado e não havia mais ninguém. Ao olhar pelas grades, percebi que haviam pessoas saindo por outro portão nos fundos. Corri em direção àquele portão e o soldado que controlava a saída das pessoas, ao me ver, já fez sinal de que o museu estava fechado. Expliquei que minha mochila estava lá e ele me deixou entrar. Ao chegar no guarda-volumes, lá estava o funcionário que eu havia dado uma mixaria de gorjeta anteriormente. Eu fiquei tão aliviado que dessa vez ele ganhou 20 EGP.

Fui andando até a estação de trem do Cairo para ficar pronto para embarcar à noite. É fácil ir caminhando, é só seguir pela Av. Ramsés, mas percebi que o táxi no Egito é bem barato e economizaria energia, não pela distância de 2 Km que é praticável, mas pelo calor do final de tarde que fazia. Peguei um táxi no caminho e paguei somente 5 EGP com o taxímetro (meters), equivalente a menos de R$ 2.

Em frente à estação de trem é o caos de vendedores, carros e vans


A estação central do Egito parece ser bem moderna, mas só parece. Existe um letreiro de informações de partida dos trens (em árabe e egípcio), mas muda toda hora ou falta informação da plataforma. Por falar em plataformas, dependendo do trem, fica tudo lotado que mal dá para andar. As mudanças são informadas em alto falante, só que em árabe!

Permaneci esperando numa mesa em frente uma lanchonete no segundo andar. Fazia muito calor. Minha saída era 20h00 e, ao se aproximar do horário, fui logo fazer o reconhecimento da plataforma, foi então que mais uma aventura iria começar: conseguir embarcar no horário!

Salão da Egypt Railway Station, a estação central de trem


Vi que no placar eletrônico não constava a plataforma do Sleeping Train de 20h00. Rodei por toda a estação e descobri um guichê de informações. Fica a esquerda após seguir direto quando se entra na estação (e se passa pelo raio-x).

Perguntei sobre o trem mostrando o bilhete impresso. O funcionário indicou a plataforma 06. Fui até lá, e havia um trem velho, vazio, parado na plataforma. Faltavam alguns minutos para o embarque e nada mudou.Perguntei para um senhor sobre o trem e ele falou que era na plataforma 11 (!?). Corri até lá, tentando driblar um monte de gente. Ao chegar la, havia um trem parado, e não era ele. O funcionário deste trem informou que era a 6 (!?!). Já eram 20h00 e nada! Foi então que, ao invés de voltar pelo túnel que liga as plataformas, passei através dos trens, pulando de vagão em vagão. 

Cheguei novamente à plataforma 6. Um rapaz bem vestido percebeu que eu procurava o Sleeping Train e me disse que era ali mesmo, que ele também o esperava e que o trem estava atrasado. Fiquei mais tranquilo, mas por pouco tempo! O trem velho continuava parado na plataforma 6 e não parecia que iria sair. Perguntei dessa vez ao vendedor de um quiosque e ele disse que o trem sairia da plataforma 11 (!?!?). Eu já sem entender mais nada e estressado, voltei ao guichê de informações que havia me direcionado à 6. Ao me ver, o funcionário gritou que mudou para a plataforma 11 e que eu tinha que correr pois o trem já iria sair!!!! Correndo mais uma vez com minha mochila nas costas, quase empurrando as pessoas, cheguei na plataforma 11 e consegui embarcar.

Suado e sem banho naquele dia, eu só queria deitar e dormir. No próximo post eu explico como é a compra e a viagem no Watania Sleeping Train.

Plataformas tumultuadas da estação de trem


CUSTOS (agosto 2014)

- Táxi Aeroporto-Museu - 120 EGP
- Entrada do Museu Egípcio - 75 EGP
- Gorjeta para guardar mochila - 5 + 20 = 25 EGP
- Entrada do Salão das Múmias - 100 EGP
- Almoço no KFC - 30,50 EGP
- Táxi para a Estação de Trem - 5 EGP
- Suco - 10 EGP
- Água (2 garrafas) -  12 EGP
- Ticket de passagem para Aswan - 100 USD


MEU ROTEIRO

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Roteiro completo: MISSÃO EGITO

Próximo: ASWAN


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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.