Rio das Mortes-MG: A história de Nhá Chica

A cidade natal de uma personagem brasileira da Igreja Católica


Enquanto eu retornava pela estrada da cidade de Carrancas, passei por Rio das Mortes, local de nascimento e batismo da beata Nhá Chica. Apesar de eu não seguir tal religião e desconhecer esta personagem, resolvi entrar na cidade para explorar e conhecer um pouco dessa história que faz parte do Brasil.


A HISTÓRIA DE NHÁ CHICA

Diz a lenda que ainda com 10 anos de idade ficou órfã e aumentou cada vez mais sua devoção por Nossa Senhora da Conceição. Nhá Chica era analfabeta e ouvia a bíblia de outras pessoas. Se dava bem com os pobres, ricos e com os mais necessitados, atendendo a todos os que a procuravam, sem discriminar ninguém. Começou a ser considerada uma "santa", mas ela respondia dizendo"... É porque eu rezo com fé".

Nhá Chica é uma candidata brasileira à santidade católica


Sua fama foi se espalhando de tal modo que pessoas de muito longe começaram a visita-la para pedir solução para os problemas. Somente às sextas feiras, que é o dia que se recorda a paixão e a morte de Cristo, ela não atendia a ninguém, então era o dia em que lavava as próprias roupas e se dedicava mais à oração e à penitência. 

Rio das Mortes é o lugar em que ela nasceu e foi batizada


Nhá Chica morreu em 1895 com 87 anos de idade e tempos depois foi beatificada. Assim como a lenda de outros santos católicos (vide a história de Santa Rita de Cascia), dizem que sentiram exalar-se de seu corpo um misterioso perfume de rosas durante os quatro dias de seu velório. O corpo se encontra até hoje no mesmo lugar, no interior do Santuário Nossa Senhora da Conceição, em Baependi-MG.


LOCAL DE NASCIMENTO DE NHÁ CHICA

Um dos pontos a serem conhecidos nesta discreta cidade do interior mineiro é o local onde Nhá Chica nasceu. A partir da praça central da cidade, segui as placas que direcionavam para lá. Em certo local se entra por um caminho de terra, entre a mata fechada, em que é possível passar somente um carro por vez por ser estreito. Fiquei imaginando como seria se viesse um carro na contra-mão.

Seguindo as placas para tentar achar o local de nascimento da beata


Se não bastasse a estrada estreita, em certo momento ela bifurcava para a passagem numa ponte de madeira sobre um rio, daquelas bem antigas e pouco confiáveis. Desci do carro para analisar a situação e percebi que pela outra via dava para cruzar o rio por dentro d´água pois era raso, o problema seria se atolasse. Com o carro em movimento, o rio foi ultrapassado e continuei o caminho!

Ponte de madeira que range só de caminhar por cima


Momento em que o carro foi jogado contra as águas para ultrapassar o rio


Continuando pela estreita estrada se chega numa porteira fechada. A princípio fiquei confuso, mas como não havia outra via que eu pudesse ter me desviado, provavelmente seria aquele o caminho. A cerca demarcava a propriedade particular mas o trânsito é livre. Depois de cruzar por dentro, existe uma segunda porteira, então o caminho continua.

Primeira porteira rumo ao local de nascimento de Nhá Chica


Segunda porteira que se tem que abrir para seguir pelo caminho


Foi engraçado encontrar um carro que retornava do local perguntando se o local de nascimento de Nhá Chica era ali mesmo. Ele não se conformava em ter procurando tanto para achar algo tão simples. Pois é, enfim cheguei no local e não passa de uma pequena capela fechada, sem janelas, com uma placa informando sobre sua importância. Um local de paz isolado de tudo e que serve como ponto de peregrinação. Era hora de encarar a volta para achar o próximo ponto desse aventura e, dessa vez, atravessei pela sinistra ponte de madeira.

A humilde capela que marca o local de nascimento de Nhá Chica


Novamente na estrada rural para retornar ao centro de Rio das Mortes


LOCAL DO BATIZADO DE NHÁ CHICA

Após retornar à praça central, segui então para achar a Igreja Velha, um sítio arqueológico do local onde Nhá Chica teria sido batizada. O caminho é bem sinalizado com placa e marcos, mas também é longo, talvez até mais que o local de nascimento.

Mais um caminho longo, estreito e acidentado até o próximo objetivo


Depois de alguns quilômetros rodados, passando até embaixo de uma ponte de estrada de ferro, se chega no isolado local que existia a Igreja Velha, hoje não passa de ruínas. O local de batistério, assim como os altares, estão sinalizados em seus pontos de origem. Perto está sendo construída uma igreja.

Placa de boas vindas ao local de batismo da beata


Igreja em construção próxima às ruínas da Igreja Velha


Nada mais sobrou deste altar, somente a base a ser escavada


FIM DE TARDE NA PRACINHA

De volta à praça da cidade, acontecia uma festa, afinal, era domingo do feriado de Corpus Christi. Matei a fome numa barraca que vendia cigarretes de presunto e queijo por R$ 3, então tive que abandonar aquele movimentado evento na cidadezinha para voltar para a estrada em direção ao Rio de Janeiro depois dessa aventura que passou pelas belezas da região de Carrancas.


Grande evento para a minúscula cidade de interior mineiro


MEU ROTEIRO

Roteiro completo: CARRANCAS-MG


Comentários

  1. Que legal! Adoro esse tipo de história. Descobrindo Minas Gerais!!!

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  2. Eu amei sua aventura e me senti dentro dela.

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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.