Egito: O Museu da Núbia em Aswan

A primeira grande civilização negra da antiguidade


Existe muito mais no Egito do que pode supor nossa van filosofia. Se você acha que só vai encontrar vestígios de pirâmides e faraós, se prepare para conhecer também outras culturas antigas.

Em uma região que atualmente se encontra em terras que pertencem ao Egito e ao Sudão, já foi localizada a mais antiga civilização negra que se supõe na história do mundo: A Núbia.

Localizada no nordeste da África, num império que se delimitava entre a atual Líbia e o Mar Vermelho, a Núbia foi a linha de encontro entre as civilizações egípcias/mediterrâneas com a população negra africana. Por volta de 3100 a.C., a I dinastia egípcia se apoderou de parte da região da Núbia, fornecendo ouro, pedras preciosas e diorito ao império. Logo, a Núbia misturou a sua história ao Egito, seja governada pelos faraós, seja na forma de reinos independentes. Atualmente, essa região é representada pela cidade egípcia de Aswan, a maior do Alto Nilo.



O MUSEU QUE GUARDA O PASSADO

O Museu Internacional da Núbia, ou popularmente Museu da Núbia foi inaugurado em novembro de 1997 em Aswan, Egito, e teve um custo aproximado de 75 milhões de liras egípcias. É um lugar novo, bem cuidado e bem organizado, diferente do Museu Egípcio do Cairo, sendo o melhor lugar para se conhecer a história da cultura e civilização núbia.

A área total do museu é e 50.000 metros quadrados, sendo 7.000 a parte interna

Eu não conhecia muito sobre essa civilização até pegar um táxi e combinar uma corrida até o local de travessia para Philae e, depois, para a Grande Represa de Aswan. O motorista se apresentou como núbio com orgulho e explicou que seu povo era diferente do árabe. Disse que podia falar o idioma árabe, mas que os árabes não entendiam o idioma núbio. 

Depois de enaltecer seu povo, sugeriu que eu conhecesse o Museu. Como eu já havia planejado visitar este lugar que ficava a apenas 550 metros do Hotel Old Cataract, combinei que ele me deixasse lá na volta da corrida. De lá eu voltaria a pé para a minha hospedagem.

Entrada do prédio do museu


Na entrada do museu está um controle de raio-X, provavelmente para impedir que fanáticos islâmicos tentem destruir com uma bomba esse acervo histórico da Núbia antiga. 

A parte externa do museu também possui atrações, na verdade, mais de 90 itens monumentais. Vale a pena dar uma volta pelo jardim que circunda o prédio do museu, nem que seja no final da visita.

No interior do museu é permitido fotografar sem problemas, com tanto que não se use o flash. Aliás, o seu interior é bem escuro, contrastando com a iluminação das peças, efeito criado para se destacar.

Representação de uma descoberta arqueológica


Um pente decorado com uma girafa e seu filhote 


Estátuas que seguem o estilo do Antigo Egito de arte


A maior estátua conservada dentro do museu


Uma estátua que me chamou a atenção foi a do Governador da Ilha Elefantina chamado Heqaib, mas não pela sua arte. A estátua mostra um líder religioso numa posição de meditação ou reverência religiosa, exatamente igual a posição de outras estátuas de civilizações antigas que eu observei pelo mundo, como na Ilha de Páscoa e em Tiahuanaco na Bolívia, locais totalmente distantes do Egito e de contato improvável entre as civilizações (pelo menos de acordo com a história convencionada). Esses povos teriam alguma ligação num passado distante ou seria apenas coincidência?

Estátua de granito de Heqaib, Governador de Elefantina e líder dos sacerdotes de Khnum.


Na pedreira de Rano Raraku, na Ilha de Páscoa, está a única estátua da ilha que foge aos padrões


No altiplano boliviano, encontrei essa estátua numa sala interditada do Museu de Tiahuanaco


Outro item bem interessante é uma estela comemorativa que supostamente representa um homem segurando um arco e conduzindo um prisioneiro a sua frente. Muito estranha são as espécies de "antenas" ou "chifres" na cabeça deles.

Pequeno desenho em baixo relevo de homens de "antenas"


A descrição da estela originada numa pedreira de diorito.


O museu possui várias outras peças interessantes e de valor histórico, principalmente para os descendentes do povo da Núbia.

O nome Nubia é mencionado pela primeira vez na Geographica de Estrabão, autor grego que supostamente visitou o Egito em 29 a.C. A etimologia do nome Nubia é incerta, mas alguns pesquisadores acreditam que é derivado da palavra "nbu" do egípcio antigo, que significa ouro, referindo-se às minas de ouro que faziam a Núbia famosa. Porém, o nome não aparece em textos egípcios antigos. Eles se referem à Nubia geralmente como Ta-Seti, que significa "Terra do Arco", uma clara referência à arma favorita dos núbios.

Uma esfinge exótica 


Peça de basalto de 1,60 m da Rainha e do Príncipe do Período Meróitico


Representação do interior de um templo núbio


MAQUETES

Uma das coisas mais interessantes que observei no Museu da Núbia são as maquetes detalhadas que facilitam a visualização do mundo antigo e o atual. Uma delas se encontra na entrada do museu: A maquete do Rio Nilo com os principais monumentos construídos ao longo de suas margens.

Logo na entrada, a maquete do Nilo representando a época do Império Núbio


Um detalhe importante é a área de Gizé, Saqqara e Dahshur com suas pirâmides milenares. Aqui se pode observar a orientação desses monumentos no terreno. E sem faltar a esfinge de Gizé.

Na maquete também estão as míticas pirâmides de Gizé e sua enigmática esfinge


No museu ainda existem outras boas maquetes como a Vila Núbia modelo. Outra maquete bem interessante é a de Abu Simbel, antes e depois do alagamento da área pela represa. Ali se pode ter uma noção exata da transferência do monumento.

Mas eu não consegui fotografar a maquete de Abu Simbel e nem mais nada pois, quando tudo parecia tranquilo, ocorreu um imprevisto. Num dos poucos museus do Egito onde se podia fotografar, a bateria da minha máquina acabou. Afinal, eu já passara por Philae e a Represa alta de Aswan.

Maquete de uma vila núbia


Para terminar o passeio, dei uma volta na parte externa do museu, o chamado Open Air Museum que possui algumas peças arqueológicas e representações da arquitetura núbia. Além disso, de lá se pode ter uma visão do cemitério (!) de Aswan.

Além da bateria da câmera, a água já havia acabado do meu cantil. A alta temperatura da tarde egípcia de verão começou a complicar a minha sede. O hotel até era perto do museu para eu voltar andando, mas ainda tive que caminhar cerca de 1 Km para comprar água no comércio mais próximo, afinal, a garrafa d´água em qualquer hotel é superfaturada, mesmo no pobre Egito.


GASTOS (agosto 2014)

Entrada no Museu da Núbia - 60 EGP
Água 1,5L - 5 EGP


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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.