Egito: Como planejar a viagem?

A caminho de uma aventura mais que faraônica 


O Egito sempre encabeçou a lista de lugares que eu queria conhecer. Pisar numa das terras mais antigas da civilização era uma obrigação para quem busca respostas sobre o nosso passado. Nos meus planos, sempre imaginei que iria precisar de um longo período para conseguir explorar cada canto daquele país, algo talvez próximo de 01 mês fosse o necessário. 


UM PAÍS SEM ESTABILIDADE

A instabilidade da região desde a chamada "Primavera Árabe", em 2011, que derrubou o Presidente Hosni Mubarak do governo de 3 décadas e se intensificou com o golpe militar para destituir o então eleito Mohammed Morsi, membro da Irmandade Muçulmana, que buscou oficializar uma polêmica Constituição, me fez refletir se não era a hora de partir para o Egito antes que as coisas se complicassem ainda mais, chegando numa crise como na Síria ou Iraque. Era a hora de partir para uma das maiores aventuras.

Manifestações e repressões violentas por todo o país (foto internet)


Carros blindados dividem espaços com os cidadãos (foto internet)


Atentados a bomba de grupos pró Irmandade Muçulmana (foto internet)


Um mês antes de eu viajar, as notícias mostravam que no país ainda havia tensão


A CAMINHO DO EGITO


Decolei do Galeão, no Rio, às 22h15 de uma sexta-feira num vôo da Lufthansa, com escala na Alemanha. Cheguei em Frankfurt por volta das 14h45 para decolar novamente às 21h30 em direção ao Cairo, capital do Egito. 

A conexão longa foi planejada para explorar a cidade Frankfurt neste dia. Veja aqui como foi a visita em Frankfurt. Após isso, embarquei para o Cairo já arrumando confusão com um egípcio. Um indivíduo estava no assento errado e ainda saiu do meu lugar reclamando. 

O vôo foi tranquilo e a comida da Lufthansa muito boa. Fiz besteira ao tentar esquentar a manteiga que veio congelada. Coloquei em baixo da quentinha que, de tão quente, derreteu e virou água. gordurosa.

Conexão no Aeroporto de Frankfurt


Ainda durante o vôo, a aeromoça me entregou a ficha de imigração do Egito a ser preenchida e entregue no controle de passaportes após a chegada. Foi então que eu me assustei quando percebi que a ficha era toda em árabe. Eu não entendia nada! A aeromoça percebeu o erro e trocou a ficha por uma versão em inglês. Menos mal.

Às 02h30 da manhã de um domingo eu chegava no solo do Egito. O fuso horário era de 6 horas a mais que o horário de Brasília.

As luzes do Cairo na chegada pela madrugada


No aeroporto do Cairo, a diversidade cultural já é evidente


No local em que se forma a fila para a passagem da imigração existem três sedes de bancos financeiros do lado direito. Estes bancos são balcões de câmbio de moedas, onde é possível cambiar 1 USD (dólar) por 7,15 EGP (Egyptian Pounds, ou Lira Egípcia como preferir). Esse valor é de agosto de 2014. 

Nota de 100 Libras Egípcias com a imagem da Esfínge de Gizé


Nesses balcões de câmbio de moedas é que se compra o visto de entrada no Egito. É só escolher um desses bancos, pedir o visto (visa, em inglês) e pagar U$ 25. Simples assim. O visto é um adesivo que pode ser colado diretamente no passaporte ou entregue dentro do mesmo para que o agente de imigração cole. 

Ao passar na imigração, entreguei o visto sem ter colado. Não recomendo. O agente colou de qualquer jeito, invertido, uma heresia para os mochileiros colecionadores de carimbos imigratórios.

Visto egípcio com os carimbos de entrada e saída


Nas esteiras de restituição de bagagem existe gente dos mais diferentes tipos e culturas. O aeroporto do Cairo é bem moderno, com áreas espaçosas entre as esteiras. Dá de 10 x 0 nas esteiras do Galeão. No local, existem várias cadeiras para a espera da bagagem, além de um escritório do Ministério do Turismo. 

Balcão do Ministério do Turismo na área das esteiras de bagagem


Grupo de mulheres muçulmanas e seus estilos "fashion"


Cheguei de madrugada e meu planejamento para aquele dia seria seguir para o Museu do Cairo, deixar a mochila no guarda-volume, e passar o dia lá até o horário de pegar o trem para Aswan, no sul do Egito, onde meu roteiro começaria de fato. Assim, escolhi as cadeiras da área das esteiras para dormir até amanhecer pois era um local mais protegido, pois tinha um outro controle até sair na área do saguão de desembarque.

Durante meu pernoite apareceu um funcionário do aeroporto perguntando se eu queria ajuda. Pensei que era algum oportunista já querendo ganhar gorjeta, mas ele se apresentou como o agente do Ministério do Turismo que ficava no balcão ali próximo. Eu expliquei que estava em trânsito para Aswan. 

Antes de sair pela última porta, ainda presenciei duas confusões: uma briga de marido e mulher, e uma discussão dentro do banheiro feminino porque faltava sabonete líquido para lavar as mãos. Depois que o dia amanheceu, passei minha mochila no raio-x e finalmente entrei no mundo egípcio, repleto de taxistas oferecendo seus serviços e placas sinalizando eu sei lá o que, quase tudo em árabe.

Quando se chega numa banca de jornais e não se entende nada, aí sim saporra ficou séria!


Algumas horas de sono no banco do aeroporto 


10 DICAS SOBRE O EGITO

Certa vez eu li uma frase que dizia "As agências protegem o turista do Egito".  Como tento evitar ao máximo fazer turismo de agência, coisa que considero muito artificial e que te afasta da realidade do país, tive que testar para saber. Nada como conhecer o país de verdade. Abaixo algumas características do Egito como ele é:

1) Assédio aos turistas nas ruas: Em alguns locais (principalmente Luxor e Gizé) o assédio é sem limites, de tirar a paciência de qualquer um. Basta pisar na rua e dezenas de vendedores, taxistas, e tudo mais que você imagina, vão querer vender seus serviços. Não basta dizer não, a insistência parece sacanagem. A maior parte das vezes, chegam de maneira simpática, perguntando de onde você é, dano boas vindas ao Egito, fazendo elogios e, quando você começa a corresponder a simpatia, não desgrudam mais. Se você responder que não quer o serviço, vão continuar perguntando se deseja para mais tarde, para amanhã, para depois de amanhã, etc, etc. Muitas vezes, infelizmente, a grosseria é a solução para largar do pé.

2) Assédio nos templos: Todo templo ou ponto turístico possui indivíduos que cuidam de seu interior. Mesmo após você já ter comprado o ticket de entrada, esses homens se aproximam e tiram sua paz. Vem como quem não quer nada e começam a agir como guias, chamando para mostrar e explicar os detalhes. No final te cobram pelo serviço e, se não pagar, começam a hostilizar. Essa prática é feita por qualquer um, até mesmo policiais que trabalham na segurança. A solução é se negar a segui-los e se afastar quando começarem a falar. 

3) Gorjeta: Tudo tem seu preço. Não espere que lhe façam nada por favor, sempre desconfie que lhe será cobrado o serviço no final. Se lhe oferecerem para bater sua foto, você será cobrado. Se lhe oferecerem uma informação, você será cobrado. Se você pagar um preço fixo por um serviço (guia de agência, táxi, entrega de comida, etc.), também será exigida a gorjeta. Não vão dizer o preço, mas para valores mais elevados, se calcula 10%. Para serviços menores, a gorjeta padrão é entre 10 a 20 EGP.

4) Negociação: Outra coisa que se deve ter paciência é ter que negociar um produto para a compra. Podem te oferecer inicialmente até por 5 vezes mais do que o produto vale. O segredo é você oferecer um valor abaixo do que está disposto a pagar, pois ele sempre vai querer um preço intermediário. Outro exemplo: Se lhe oferecem um produto por 100 EGP, e você oferece 20 EGP, ele vai baixar para 90 EGP. Você então baixa sua oferta para 15 EGP, ele não vai aceitar e você então se vira e vai embora, para que ele perceba que se não te oferecer pelo preço justo não terá negócio. Logicamente, a diferença de valores varia de acordo com a situação e o produto. 

5) Clima seco: No Egito, coisa rara é chuva. O clima é tão seco que dá para lavar a sua roupa e, em poucas horas, já está seca. Se eu soubesse dessa característica, eu teria levado menos roupas na mochila para evitar o peso. A sede também é algo comum nesse clima, havendo a necessidade de muita água. Compre sempre engarrafada e de preferência das marcas Nestlé e Dasani (Coca-Cola) que são mais confiáveis. Atenção para o lacre que é comum na tampa dessas garrafas no Egito. O preço padrão (agosto 2014) para água 1,5L comprada na rua é de 5 EGP (apesar de tentarem oferecer pelo dobro para turistas). Em mercados pode custar até mais barato.

6) Trânsito: Em resumo, é caótico! A buzina é item indispensável para a direção, ou seja, espere muita poluição sonora nas ruas.

7) Câmbio de dinheiro: Todas as casas de câmbio possuem a mesma cotação. Eles compram dólar por 1 USD = 7,15 EGP e vendem dólar por 1 USD = 7,18 EGP. É mais difícil achar uma casa que venda dólar, a maioria está dentro da área de embarque dos aeroportos, depois que passa no raio-x. Tem o limite de 100 USD por pessoa.

8) Roupas: O algodão egípcio e o linho são os tecidos que mais se adaptam ao calor do Egito. Para as mulheres é recomendado não usar roupas muito decotadas ou que marque o corpo. Os homens muçulmanos já costumam tratar as mulheres como um objeto, se usar roupas curtas então, o tratamento pode ser mais desrespeitoso. Eles não se incomodam de cantar as mulheres mesmo que estejam com namorados. Na cultura muçulmana a mulher é uma propriedade. É como se elogiar um homem pelo seu belo carro, por exemplo.

9) Ouro: É barato e abundante no comércio. Se você planeja comprar ouro, o Egito é o paraíso. Mas fique atento para não comprar gato por lebre, escolha lojas qualificadas

10) Táxi: Prefira os táxis brancos e que possuam taxímetro (meters, em inglês). Fora do Cairo é mais difícil achar com taxímetro (só vi em Alexandria). Escolha os táxis que menos te perturbem, mas que fale inglês. Se falar só o Árabe, descarte, pois muitos fingem que não entenderam o destino e ficam girando para aumentar a corrida. Existe ainda um serviço de discagem a disposição dos taxistas em que estes podem ligar e um atendente que fala inglês intermedia a conversa. 

11) Brasil: O nosso país é conhecido no Egito não só pelo futebol (desde Pelé até Neymar), mas também por causa do café. O Nescafé é a marca preferida dos egípcios. Muitos egípcios que trabalham com comércio conhecem São Paulo, possuindo contatos de negócios na cidade.


CUSTOS (agosto 2014)

- Passagem Lufthansa Rio-Frankfurt-Cairo (ida/volta) - R$ 3.167,50
- Visto egípcio de entrada - U$ 25


MEU ROTEIRO

Roteiro completo: MISSÃO EGITO

Próximo: FRANKFURT (primeiro dia)


Comentários

  1. O q te perguntaram na imigração? Pediram documentação, reservas, seguro viagem, certificado de febre amarela?

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  2. Aline, não me pediram nada, exceto o visto é claro. Não aconteceu comigo, mas costumam revistar as bagagens de brasileiros em busca de drogas.

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  3. Onde ficou hospedado? O que tem a dizer sobre os valores?

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    Respostas
    1. Fiquei hospedado no Hotel Mercure, no Cairo. Em 2014 o Real ainda estava valorizado e não era tão caro ficar eu um bom hotel

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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.