Egito: O Templo de Luxor e a lenda que aproxima Hórus de Jesus

Um templo egípcio que reúne elementos de várias religiões


Pode-se dizer que este é o templo da diversidade religiosa do Egito. É o único monumento do mundo que contém elementos de crença faraônica, greco-romana, cristã e islâmica. A proximidade dos romanos (que já construíram um forte anexo ao templo) com a mitologia egípcia registrada nas paredes teria influenciado na história do nascimento de Jesus? Apesar do assunto ser polêmico, existem evidências disso, por esse motivo fui até lá comprovar.


COMO VISITAR O TEMPLO?

Para chegar no Templo de Luxor basta estar em Luxor. O templo fica bem no meio da cidade e na beira do Rio Nilo. Ao redor do templo existe uma praça movimentada, principalmente à noite quando o templo está iluminado. Nas proximidades há bastante comércio (tem até McDonalds) e dezenas de vendedores chatos. É possível ver o templo de Luxor de vários ângulos da cidade por cima de seus muros baixos.

Vista do Templo de Luxor a partir da praça de alimentação do McDonalds


O Templo de Luxor tem 260 metros e é dedicado ao deus Amon


O templo funciona diariamente de 6h às 22h (no inverno fecha às 21h). O ingresso custava 60 EGP em agosto de 2014. Na parede de entrada existe um mapa explicativo das áreas do templo.

A mesquita Abu Al-Haggag está anexa ao templo


Representação do Templo de Luxor no passado (clique para ampliar)


AVENIDA DAS ESFINGES

A beleza do Templo de Luxor se devem, principalmente, ao governo de dois faraós: Amenhotep III e Ramsés II. O templo era dedicado ao deus Amon e possuía uma conexão com o templo de Amon em Karnak através de uma avenida cercada de esfinges, chamada de Avenida Processional, pois acontecia uma procissão uma vez por ano, durante a celebração do Ano Novo, na qual era levada uma imagem do deus Amon até Luxor. O templo cobriu a avenida de areia e construíram casas em cima após a expansão desordenada da cidade. Atualmente, é possível ver apenas trechos de cada lado dos templos.

A avenida das esfinges ligava os templos de Luxor e Karnak no passado


Esfinges com cabeça humana feitas por Nectanebo I


Santuário de Serapis


Um dos únicos templos no Egito que você pode encontrar uma estátua romana


ENTRADA DO TEMPLO

A entrada atual foi construída por Ramses II no formato de pilones e possui relevos que narram a batalha de Kadesh, dos egípcios contra os hititas (atual Turquia). Algo bem marcante na entrada são as estátuas sentadas do faraó feitas de granito cinza. Uma curiosidade é que a Rainha Nefertari aparece representada na lateral do trono.

As colossais estátuas de Ramses II possuem mais de 15 metros


No Egito era assim que se faziam os bustos de gente poderosa


Atualmente, na frente dos pilones existe um obelisco, mas no passado eram dois. O segundo foi dado de presente à França em 1836 em reconhecimento ao francês Champollion, primeiro tradutor dos hieróglifos. O rei Luís Felipe I o colocou no centro da Place de la Concorde, em Paris. Agora me diz, para que tirar um obelisco milenar de lá?

Os obeliscos eram posicionados lado a lado, em frente a estátua de Ramses II


Mede aproximadamente 25 metros


Na base do obelisco estão esses curiosos babuínos de pênis desproporcional e ereto


Local que ficava o segundo obelisco, que agora se encontra em Paris


O que será que essa linha colocada no alto da parede do templo serve para medir?


MESQUITA ABU AL-HAGGAG

Quando o templo começou a ser escavado das areias que o cobriam desde que foi abandonado pelos romanos, havia uma vila árabe construída em cima. As casas tiveram que ser removidas, porém a mesquita do século 13 existente na vila foi preservada. Com isso, hoje podemos ver uma mesquita dentro de um templo egípcio.

A mesquita foi construída pelos árabes no século XIII


Além da mesquita, os egípcios também visitam o templo. A entrada para nativos é de 2 EGP


Eu também acabei me tornando "atração turística" para os egípcios que queriam fazer amizade


PÁTIO DE RAMSES II

Logo que se entra, existe um pátio largo que foi adicionado ao templo antigo por Ramses II e que mostra o faraó com diferentes divindades em estátuas colossais.  Ao redor estão colunas no formato de plantas de papiro. Possui ainda 3 capelas dedicadas a Amon (centro), Mut (esquerda) e Khonsu (direita), a trindade divina do Egito antigo.

Estátuas e colunas ao redor do pátio


Ramses II queria ser representado sempre na presença dos deuses


Amon (deus criador da vida), especificamente em Luxor, era representado na forma de Min (o deus da fertilidade)


No pátio de Ramses II existe 74 colunas em forma de papiro 


Os funcionários do templo esperando uma boquinha como guias inconvenientes


PÁTIO DE AMENHOTEP III

Para ir do pátio feito por Ramses II até o pátio de Amenhotep é preciso passar pela colunada processional de Amenhotep III, formada por 14 colunas paralelas. Essa área é mais antiga que o pátio anterior. Seguindo, se chega numa série de colunas com figuras de deuses que foram restauradas na XIX dinastia, uma vez que os originais foram destruídos por Akhenaton que, na sua época, instituiu uma religião monoteísta.

A colunada mede 16 metros de altura


A colunada leva até um segundo pátio feito por Amenhotep III


MODIFICAÇÃO NO TEMPLO

A próxima sala do templo é bem diferente das demais. Os romanos transformaram o que era o vestíbulo (antessala do santuário) em uma capela em honra de Augustus, chamada de quarto do rei divino. Uma nova decoração foi feita nas paredes por cima dos relevos egípcios, adicionando uma camada de estuque e pintando com figuras de estilo greco-romana. 

Neste local ficava a estátua do imperador de Roma


Pinturas greco-romanas desbotadas, quase desaparecendo das paredes


O SANTUÁRIO

A parte que está ao fundo do templo é um verdadeiro labirinto de salas recheadas de relevos e hieróglifos. A conservação não está muito boa ao contrário dos demais templos do Egito, talvez tenham sido vandalizadas em anos de existência no meio da cidade, mas mesmo assim, guarda o conhecimento de antigas tradições que nos fazem entender a crença egípcia.

Tentativa de se restaurar os relevos do santuário


Nessa estranha figura, algo é arremessado e atravessa a cabeça de Amon


Santuário do barco de Alexandre Magno


Representação de um "despacho" de oferendas aos deuses


Detalhe de um porco sacrificado


Cena curiosa: indivíduos arremessam várias Ankh no disco solar acima do faraó


E mais uma vez, pediram para tirar foto comigo...


Parece que eu era mais exótico para os egípcios do que aquele templo colossal


O INTRIGANTE PRESÉPIO EGÍPCIO

A maioria dos turistas que passam pelo Templo de Luxor não se dá conta de uma figura intrigante naquelas paredes. Em uma das salas do santuário existe aquilo que já foi apelidado de O Presépio de Amenhotep III. São relevos que contam a história do nascimento do deus Hórus e que se assemelham muito ao nascimento bíblico de Jesus Cristo. As figuras na parede do templo representam a anunciação, a concepção, o nascimento e a adoração, assim como descrito nos evangelhos bíblicos. 

Os relevos do nascimento de Hórus já estão bem desgastados, difíceis de serem captados em fotos


Desenho dos relevos do nascimento de Hórus (clique para ampliar)


Os relevos feitos a cerca de 3.500 anos atrás mostram, no primeiro quadro, o deus Thoth anunciando à virgem Isis (Osiris, seu marido, havia sido assassinado por Seth) que ela irá gerar Hórus. No segundo, a deusa Kneph faz o papel do "Espírito Santo" que conhecemos, impregnando a virgem. Outra cena curiosa é a existência de três reis ou magos que trazem presentes.

No local mais deteriorado está a anunciação de Thoth


Thoth é o deus do conhecimento, da sabedoria, da escrita, da música e da magia


Não vou afirmar que a bíblia copiou a história egípcia do nascimento do messias, mas um fato interessante a saber sobre a data 25 de dezembro é a comemoração do culto ao sol pelos povos antigos. A explicação é a seguinte: 21 de dezembro marca o solstício de inverno e, nesse momento, o sol está em seu ponto mais baixo. Os povos antigos descreviam o solstício de inverno como o "sol em sua caverna". Durante três dias, o sol permanece em sua caverna. O primeiro dia, quando o sol começa a subir novamente é meia-noite do dia 25 de dezembro, assim, essa data/hora pode ser considerada como "o nascimento do sol em uma caverna". 

Isis sendo impregnada pelo espírito santo


Cenas de Isis sendo assistida no parto


Outro fato relevante é que no cristianismo ortodoxo o nascimento de Jesus era originalmente comemorado no dia 06 de janeiro. No entanto, nos séculos 3 e 4, quando o cristianismo começou a se expandir por todo o mundo mediterrâneo, ele bateu de frente contra séculos de adoração do sol, celebrado em 25 de dezembro. Assim, por razões políticas e intenções de controle de potência, o nascimento de Jesus foi alterado de 6 janeiro para 25 dezembro, no Concílio de Nicéia, convocado pelo imperador romano Constantino.

Relevo que mostra a concepção de Isis


Perceba a representação de que eles não estariam neste "plano terrestre"


Alguém já parou para pensar que a palavra "amém" usada pelos cristãos é semelhante ao nome do deus sol Amon (pode ser derivado para Amen, como no caso do nome do faraó Amenhotep). O que se conhece da palavra "amém" é que veio do hebraico, e significa "espere por isso". E o que se conhece dos hebreus? que vieram do Egito...


DESPEDIDA DE LUXOR

Depois de quatro dias de exploração em Luxor, este templo fechou o ciclo. Agora meu próximo objetivo seria chegar na Península do Sinai, atravessando o famoso Canal de Suez. Antes de deixar o templo, presenciei uma cena inusitada para a nossa cultura: dois homens estavam descansando na sombra, sendo que um deles aproveitou para deitar no colo do amigo. 

Uma cena de amizade bem estranha na cultura ocidental


MEU ROTEIRO

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Comentários

  1. Olá! Adorei seu texto, muitas boas informações, me ajudou bastante num trabalho à escola! Valeu :)

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  2. Excelente descrição. Acabei de voltar dos Emirados Árabes Unidos e vi também, certos costumes, só entre homens, que o preconceito em Ocidente julgaria muito equivocadamente. Tanto a farsa hebraica quanto o que seguiu tendo como base essa farsa, o Cristianismo, são cópias exatas da história que você viu em Luxor. Só que as personagens mudaram os nomes. Um provérbio do Tibet reza que a ignorância é a base de todos os pecados que existem no mundo

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    1. Gente, Isso já foi confirmado como fake há mto tempo!!! A literatura egípcia não confirma essa versão da história de Hórus. Aliás, se forem estudar o que a mitologia fala sobre Isis e Osíris, pais de Horus, é completamente diferente. Isis não poderia ser virgem, já que era casada, Hórus e nem Jesus nasceram em 25 de dezembro, Ísis engravidou fecundando-se ela própria, com o sêmen de Osíris... As fakenews sempre existiram! O camarada se encantou com a história de Jesus e com o Templo de Hórus, então quis recontá-la ali com esses personagens mitológicos! Kkkk

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  3. Excelente matéria, texto, fotos... um encantamento, o passado egípcio. Quanto à cena dos amigos descansando, uma pequena herança do grande avanço que essa civilização alcançou, pena que muito se perdeu também.

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  4. Adorei a materia. Estive no templo deLuxor a noite nao percebi esses detalhes. Mas é fascinante e eu acho q a cultura egípcia antiga influenciou e inspirou os escritos biblicos. Abr

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  5. Incrível seu blog , muito inspirador. Esse ano começo a estudar história, sempre me fascina essas histórias, fazer estas viagens e realmente navegar pela história e o tempo.

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Sobre o autor

Sobre o autor
Renan é carioca, mochileiro, historiador e arqueólogo. Gosta de viajar, fazer trilhas, academia, ler sobre a história do mundo e os mistérios da arqueologia, sempre comparando os lados opostos de cada teoria. Cada viagem que faz é fruto de muito planejamento e busca conhecer o máximo de lugares possíveis no curto período que tem disponível. Acredita que a história foi e continua sendo distorcida para beneficiar alguns grupos, e somente explorando a verdade oculta no passado é que se consegue montar o quebra-cabeça do mundo.